INQ1 E é casada, a senhora?
INF Agora sou viúva.
INQ1 Pois, viúva.
INF Sou viúva. E já faz agora para Março vinte e três anos.
INQ Rhum-rhum.
INF Tinha cinquenta e quatro, tenho setenta e sete.
INQ2 O seu marido era daqui também?
INF Era, sim senhor. E nasceu aqui também, ele.
INQ1 E a senhora nunca foi à escola?
INF E morreu já… Aqui não. Deu-lhe um ataque. Fomos com ele para Lisboa. Chegou lá, morreu. Nessa noite.
INQ2 A senhora nunca foi à escola?
INF Ah, ainda fui à escola, mas saí logo.
INQ2 Rhum-rhum.
INF Naquele tempo [vocalização] ia quem queria. Depois cheguei ao fim da cartilha, não sabia o que estava para trás, a senhora passou-me para o princípio da cartilha. Cheguei a casa, disse à minha avó – que foi quem me criou, que eu tinha quatro anos quando minha mãe morreu –: "Ó avó, já não vou à escola". "Então porquê"? "Olhe, a senhora passou-me para para o princípio. Eu não sei Eu não sei o que está no princípio nem o que está no fim. [vocalização] Eu não p- Eu não sou capaz de aprender". "Eh, então não queres ir, não vás"! Pronto. Dan- Dantes não obrigavam as pessoas. Ia quem queria.
INQ1 E a senhora depois trabalhava em quê? Começou a trabalhar pequenina?
INF Ah, eu ele tinha já doze anos, ou treze, quando comecei a trabalhar. [vocalização] Trabalhava: arrancava moitas de Inverno e mondava arroz de Verão e e fazia-se muitas coisas.