INF1 A gente tinha tinha aí um burro pequenino.
INF2 Até estava sempre ali o muito mais fundo [pausa] o terreno por onde o animal andava – não é? – dos lados.
INF1 Ela já não se lembra. [pausa] Ainda éramos solteiros. [vocalização] Tínhamos ali uma burra pequenina que sabia ler. Quando enchesse o tanque, que não tivesse de tirar, zurrava logo.
INF2 Parava-se.
INF1 Ou parava.
INF2 Parava-se.
INF1 Pois.
INF2 Não tinha para encher, parava-se.
INF1 E isto Isto foi… Chamava…
INF2 E com os olhos tapados. Que ela não via, que tinha que andar com os olhos tapados.
INF1 Os olhos tapados. Isso…
INQ1 Como é que ela sabia que já estava cheio?…
INF1 Vocês não se acreditam…
INF2 Não sei se era pelas voltas que dava, se quê…
INF1 Chamámos tanta gente! Vão lá ver… Ou parava ou zurrava.
INF2 Ou zurrava.
INF1 E se zurrasse uma vez ou duas, se não lhe aparecêssemos, que não sentisse os passos, parava-se. Se calhar lá tinha… Ela não via!
INF2 Ou se calhar era pelas voltas que dava!
INF1 Uma burrinha pequenina!
INF2 Já agora mesmo para as outras… A gente chama-lhe burros mas são inteligentes à mesma, também sabem!
INF1 Ela tirou ali mais… Ela tirou ali mais de dez anos, coitadinha!
INF2 Aquilo ou era pelas voltas que dava ou não sei.
INF1 "Não se acreditam, vá"! Não estava lá ninguém! Meu pai engatava-a. "Vá, deix- deixem-se estar! Não falem"! Não podiam falar que ela depois… Se não estivesse ninguém, ou zurrava ou parava. E ela não via! Lá tinha aquele… É o destino! A gente não sabe, não é?
INQ1 Claro.
INF1 Olha, também trazem noras!
INQ1 Pois também.
INQ2 Olhe, e lembra-se como é que se chamava este pau que estava aqui ao alto?
INF1 Pois, oh! Eu lembro…
INF2 Eu já não me lembro.
INQ2 Onde prendia o braço?
INF1 Era onde prendia o braço, pois.
INF2 Eu já não me lembro também isso.
INQ2 Mas qual é o nome dele?
INF1 Não me lembro. A gente, ali até era tudo em ferro.
INQ2 Ai era?
INF1 Era tudo em ferro.
INF2 Era. Ali a nora era toda em ferro.
INF1 O meu pai mandou vir de fora. Era já uma norazinha bem preparada! Também tinha os tais… E há muitas que a menina está a dizer que isto é em pau.
INQ1 Rhum-rhum.
INF1 É.
INF2 Pois, mas ali não era feito em pau. Era em ferro.
INF1 Ali era tudo em ferro.
INF2 Mas eu não sei como é que chamavam a isso.
INF1 É isto, pois. Isto está ligada e depois está aquilo… Até estava, lá estava crav-.
INF2 Já há muito ano, depois começou aí…
INF1 Estava cravejado com os parafusos, e tudo! Mas já tenho visto assim de pau. É mais ruim.
INF2 O meu cunhado Custódio ainda há pouco tempo tirou além os alcatruzes e a nora.
INF1 Os alcatruzes. E E tiravam muito… Desde que tirasse bem – aquilo era muito custoso! –, tiravam uma bela pinga! Ah, mas hoje os motores é que…
INF2 Eram metade dos alcatruzes despejados, outros cheios.
INF1 Era.
INQ2 Pois.
INF2 Iam para baixo, iam despejados; quando vinham para cima é que vinham cheios, estava sempre…
INF1 É, então…
INQ1 Vinham cheios e depois despejavam aquela água…
INF1 Despejavam dentro dum tabuleiro.
INF2 Despejavam aquela água para dentro dum tabuleiro, de lata.
INF1 Aqui, mais ou menos. Aqui, mais ou menos. Olha aqui o… Despejavam. Aquilo estava, aquilo estava… Feito pelos antigos, aquilo estava bem feito! Então não estava?! Andavam em volta, chegavam ali, deitavam para dentro do tabuleiro…
INF2 Despejavam para dentro dum tabuleiro, por um re-, por um cano, depois vinha a correr para esse tanque.
INF1 Vinha ter ao tanque.
INQ1 Rhum-rhum.
INF1 Coisas, enfim!…