INF1 A abelha principal é a abelha-mestre.
INQ1 E ao…
INF1 Essa é a abelha-mestre. Em todos os cortiços, em todos os cortiços e em todos… As abelhas só têm uma!
INQ1 Rhum-rhum.
INF1 Só têm uma! O meu pai teve sempre co- cortiços e apanhou sempre muito enxame, que esse chegou a ter muitas colmeias. E depois no resto, os enxames eram era pequenos e juntava. [pausa] Juntava os dois, mas para juntar tem que aj- tem que os molhar. Vai com uma pouca de água, molha a abelha que está ali em moitão – porque a abelha sendo molhada, perde o cheiro. E depois já as que estão dentro do cortiço já recebem aquela, porque perdem o cheiro, não sabem se há-dem aceitar, se não. E a mestre depois, menos da hora que se juntam, filam-se a brigar: a que for mais fraca, [pausa] a outra mata-a , fica só uma sozinha. E quando é no, no no Verão, fica só [vocalização] um um zango para fazer casta.
INQ1 Ah!
INF1 Escolhido pela mestra. Fica só um zango e os outros são todos mortos. Quando é a entrar no cortiço à noite, as abelhas esperam ali por eles, é tudo morto!
INQ2 Ah! Que giro!
INF1 Só fica um.
INQ1 Não sabia.
INF1 [vocalização] Pois. E o E o Damião, o filho dele é é engenheiro agrícola, tem muita colmeia… O ano passado – o outro ano –, cá no país ele até é que ganhou o primeiro prémio, [pausa] pois, de arranjar mel. E esses, a maior parte delas nem dão tempo de enxamear. Tira-as ele. Tira-as, [pausa] mas [pausa] bem vindo mais que uma mestra, mata uma e fica só com uma. [pausa] Porque a mestra é diferente das outras, conhece-se bem. É maior, é qu- quase da cor duma vespa. A mestra. E é maior que as outras. E as outras são mais curtinhas e são mais escuras, mais negras. Pois.
INQ1 Olhe e com que é que a abelha pica?
INF1 Hã?
INQ1 Com que é que a abelha pica?
INF1 A abelha? [pausa] Pica com um um ferrão.
INF2 Ferrão.
INF1 Um ferrão que tem ligado às tripas. Toda a abelha que pica morre logo.
INQ1 Pois.
INF1 Porque espeta o ferrão e depois o fe- elas começam a zunir até que fogem, [pausa] largam e o, as t- a tripa fica agarrada ao ferrão, depois a abelha morre. Toda a abelha que pica morde. Morre.
INQ1 E a vespa não?…
INF1 Pois, porque larga a tripa agarrada ao ferrão, depois morre.
INQ1 A vespa também morre?
INF1 A vespa não. A vespa não morre. [pausa] Agora a abelha morre. [pausa] Mas a vespa também pica. É como um mosquito. Um fulano vem, agora neste tempo: "Eh, os mosquitos estão só a morder"! Eu então sempre que posso dizer-lhe: "Ó diabo, não digas que os mosquitos mordem! Então não vês que eles não têm dentes! Só morde é mordem toda a qualidade de vivente que tem dentes! Agora a o mosquito não tem dentes, não morde, pica"! O mosquito pica, a a mosca pica, a abelha pica. Toda a bicheza que não tem [pausa] dentes, todos picam.
INQ2 Rhum-rhum.
INF1 E os que têm dentes é que mordem. [pausa] Pois até dantes, pu-, descalça- às vezes, quando calhava andar calçado, descalçava o pé, quando calhávamos a encontrar, qualquer pessoal, um alacrau. Depois eu ia, punha o pé em cima da cabeça do alacrau para ele picar [pausa] no pé. Depois ele espetava o pico, depois fazia assim… Às vezes, até o veneno – ele ganhava ali uma bolhazinha de veneno, uma bolha de água de roda. Para eles verem que o lacrau é uma mordidela terrível. Há-de ser aí conforme vinte e quatro horas credo! Agora eu não me faz diferença nenhuma!
INQ1 E punha alguma coisa…
INF1 Portanto, havia havia uma casa em Lisboa que davam na te- dinheiro para um fulano pôr o pé em cima do lacrau. E eu [vocalização] já disse ao genro da minha filha para irmos lá umas poucas de vezes, porque ele tem um carro: "Oh pá, vamos lá! Eu descalço-me. Chego lá, descalço-me. Mas primeiro dão-te o dinheiro a ti e depois é que ponho o pé em cima da cabeça do lacrau". Eles de vez em quando até apresentam o lacrau; e é remédios ou não sei quê, e o lacrau, que é para um remédio não sei quê! Até ouvi dizer primeiro que era para para o cancro, ou para o cangro, ou não sei quê! O veneno do lacrau! Agora não sei, nunca mais ouvi mais nada!