INF O meu avô todos os anos… Que os Os ventos é que mandam no tempo. [pausa] De dia 21 para o dia 22 eu vou ver os ventos, donde ele cai… De De dia 21 do mês de Natal até ao 21 do mês de São João, o quente é que governa. [pausa] E de 21 do mês de São João até 21 de Natal, os ventos é que governam. Uma vez o meu avô, fui eu, era rapazito: "Vá, Danilo, levanta-te, que é para ires mais a gente para o moinho de vento". Faziam o lume, quando era aquela hora em ponto, e o lume trabalhava… Eu ainda me lembro, o vento no dia 21 veio, veio ficou sul. Diz o meu avô para o outro, que era o Indalécio… Que lá tinha, eu, na minha terra, todos tinham os seus nomes. O meu avô chamavam-lhe Israel, e o outro era o Indalécio, e o outro era o Ireneu. Ajuntavam-se todos três num sítio que chamam o Moinho de Vento. Hoje há lá um grande jardim em Montargil. Vocês também vão a Montargil, não? Ou já foram?
INQ1 Hãa, agora, desta vez ainda não vamos. Somos capazes de ir doutras vezes.
INF Ah, mas então andam para estagiar. Então que curso é? As senhoras, que andam – as meninas?
INQ2 Em letras.
INF Ah, é letras?!
INQ1 Nós já, já acabámos o curso e isto agora é já…
INF Ah, então letras é para jornalistas.
INQ2 Não. É, é para linguística.
INF Ah, para linguística.
INQ1 Para estudar a língua. Para saber a língua portuguesa, para estudar a língua portuguesa.
INF Ah, a língua portuguesa. Andam para saber a língua portuguesa. Está bem. Sabe qual é, no Norte? Fui uma vez de mota, era militar. Ia mais outro rapaz e ouvimos um um fulano, era sapateiro. Diz para a mulher: "Ó reco… Ó Dília, vai ver o reco que está a dormir na corte". [pausa] Diz o outro: "A gente vai perguntar". "Não, que isso são… Chamam chalados a gente, pá. A gente vai atrás dela e vamos ver". Fomos atrás dela, vimos um rodeio. [pausa] No Norte – foi em Oliveira de Azeméis – chamavam a corte e um porco era o reco.
INQ1 Rhum-rhum.
INF Vimos então… Ele o Norte ainda tem mais extravagante. A língua portuguesa, vocês têm muito que ler e que [vocalização]…
INQ1 Pois é.
INF Têm. Vocês Vocês nem um ano fazem o estudo todo da língua.
INQ1 Ah, pois não. Isso é para a vida inteira.
INF É [vocalização] uma coisa inteira?!
INQ1 É.
INF Mas andam por conta do Estado ou é [vocalização]?… É por conta do Estado?
INQ1 Sim, é já… É do Ministério da Educação.
INF Ah, vocês andam por conta do Ministério da Educação?
INQ1 Sim, porque estamos ligadas à universidade.
INF Ah, estão ligadas à Universidade! Andam a fazer um estudo dos usos em Portugal e costumes.
INQ2 Exactamente.
INQ1 Sim. Das palavras.
INF E das palavras.
INQ1 Das palavras ligadas a esses usos e costumes.
INF E ligadas. Mas eu tenho de dizer isto. Aqui na terra, chamam o boi, quando é quando é novo chama-se garraio; a passar dos quatro anos é que se chama boi.
INQ1 E quando acaba de nascer?
INF É, é É garrainho. É um garrainho. Quando chega a uma certa idade chama-se novilho. [pausa] Tem esses nomes aqui na região.
INQ1 Rhum-rhum.
INF Quando têm dois anos de estar na engorda é os novilhos. [pausa] Passando os dois anos, passa a ser garraio. [pausa] A passar dos três para os quatro anos, passa a ser boi.