INQ Nunca houve assim nenhum problema entre fazer a festa de Espírito Santo,
INF Não, não.
INQ e, por exemplo, o padre, algum padre,
INF Não, não.
INQ a Igreja em si…
INF Não senhor. Então, a festa do Espírito Santo é uma das coisas que todos os padres, quer dizer, aqui entre nós, todos têm colaborado. O senhor padre até quando acaba de de fazer a coroação, n- no dia de bodo – não é? –, vem aqui em cortejo com com todos os convidados, e a filarmónica atrás do senhor padre, e o senhor padre vem aqui benzer o pão e o vinho.
INQ Ah, pois.
INF Está a perceber? Vem aqui. E a gente depois disso, até a primeira rosquilha que a gente dá e o primeiro pão é ao senhor padre e ao sacristão. São eles que vêm benzer e depois a gente oferece a eles e a partir daí começamos a distribuir a toda a gente .
INQ Portanto nunca houve assim qualquer questão de dinheiros? Do, de ser?…
INF Não.
INQ De o padre
INF Não senhor.
INQ pedir que se desse alguma coisa à Igreja sempre?…
INF Nada. Isso então o dinheiro da Igreja [pausa] faz parte da Igreja e este aqui faz parte daqui, está a perceber?
INQ É uma coisa. Pois.
INF Porque, sabe, isto aqui, [vocalização] isto não há rendimentos. Os rendimentos que há, por exemplo, é no dia do bodo, a gente tem aqui uma bandeja com vinho e massa sovada – não é? –, e o senhor entra aqui – não é? –, a gente oferece para o senhor entrar cá dentro, vem ver o nosso império, entra, mata o bicho – não é? – e [vocalização] dá dois escudos e meio, cinco escudos, dez escudos, vinte, conforme quer. Até pode dar cem, que há muitas pessoas que dão cem, que entram e são devotas do Senhor Espírito Santo, e gostaram de ver – não é? – e oferecem cem escudos – muitos deles! [vocalização] Quer dizer que esse dinheiro é que a gente vai guardando para as construções e para as necessidades que temos aqui do do império. A gente procura não pedir nada a ninguém.
INQ Pois é.
INF Portanto, nós temos aqui as nossas panelas, temos os nossos bancos, as nossas mesas, as nossas terrinas, garfos, facas, colheres, toalhas. Tudo quanto a gente precisa, a gente tem aqui, para servir a freguesia em peso! Para servir a freguesia toda! Pois ele também há uns noivos aí, qualquer um que casa e que precisa de bancos ou precisa de mesas, qualquer coisa, pois ele a gente empresta. Porque isto é do povo, não é nosso!
INQ Pois.
INF É que ele até este ano, este ano passado e o outro, estive de procurador; este ano aquele é que está e mais dois colegas – não é? –, eles é que emprestam, é que tomam contas. Não ganham nada durante um ano com este trabalho aqui, não ganham nada! [pausa] O trabalho deles, pois, é: um fica encarregado para o Senhor Espírito Santo… São três coroas, tem que [vocalização] enfeitá-las, quando chegar ao tempo, cuidar da limpeza delas – não é? –; as insígnias, as bandeiras, quer dizer, tudo o que pertence ao Senhor Espírito Santo, um homem é encarregado durante o ano de manter aquilo limpo e em ordem. O outro é encarregado das obras. Tem que pintar todos os anos, tem que pôr isto tudo em ordem, não é? E o outro é encarregado de todos os materiais que estão cá dentro, materiais esses que são as ditas panelas e terrinas… Tudo quanto existe aqui dentro, ele tem que tomar apontamento do que sai e tem que tomar apontamento do que entra, está a perceber? Porque se faltar, o senhor se me levou, já sabe que tem que pagar. Porque isto não é nosso.
INQ Pois, pois.
INF As pessoas que estão aqui são precisamente, quer dizer, uns procuradores só para trabalhar, não para ganhar nada, só para zelar esta casa. O que tem: uns trabalham este ano, os outros trabalham daqui a um ano… E a gente vai nomeando, uma vez um, outra vez outro.