INQ Portanto, há a festa do Espírito Santo para crianças e outras para as pessoas adultas?
INF1 É, é. No mesmo dia, antes de dar o jantar às pessoas adultas, dá-se o jantar primeiro às crianças: às vezes, cento e cinquenta, cento e sessenta, cento e setenta, cento e vinte – e já dei até para cima de duzentas. Mas faz-se sempre às crianças antes de dar o jantar aos adultos. Sempre, sempre! Sempre que se dê o jantar aos grandes, primeiro se dá aos pequenos. Isto é Isto é uma tradição que vem muito antiga mas que continua sempre [pausa] na mesma forma.
INF2 Depois dá-se-lhes uma brindeira.
INF1 E depois quando se dá o jantar às crianças, ainda tem graça. É que [vocalização], muitas das vezes, muitas pessoas, por exemplo, que [vocalização] prometem de dar uma tigelinha de sopa de esmolas [pausa] – como eu dei… Já para não falar nos de fora, digo eu. Eu prometi de dar… Eu dei-lhe um jantar e prometi de dar uma tigelinha de sopas a cada um enfermo da nossa freguesia. Ora, os enfermos são as pessoas que estão em casa, que não saem, que estão nas camas, deitados para ali, e que não podem vir à missa – não é? –, e havia trinta e dois enfermos na nossa freguesia – mulheres e homens –, e eu dei trinta e duas tigelas de sopa a essas pessoas. Como também [vocalização] dei de jantar a todos os velhinhos que estavam no asilo, juntamente as pessoas que lá trabalhavam. Foi-se lá levar o jantar. Ora, há muitas pessoas que dão muitas tigelinhas de sopa, não aos enfermos, nem ao asilo, a crianças [pausa] inocentes. Quando se acaba de dar o jantar aos pequenos, pois lá há uma série de bilhetes que se distribui pelos inocentes da freguesia, não é? E lá as mães vêm com eles ao colo e com um cestinho ou uma açafatinha na mão buscar a tal dita tigelinha de sopa e uma brindeirinha de pão de trigo, em cima. Ora, quando há esta distribuição, está a filarmónica a tocar.
INQ Pois é.
INF1 Aquilo até dá um choque.
INQ Pois.
INF1 Está aquelas crianças tudo, tudo enfileirado por ali fora, tudo à vez. E à maneira em que vão dando, as crianças vêm andando. E depois disso tudo, é que há o jantar então das pessoas adultas, depois com os seus convidados, [pausa] que vêm assistir ao banquete. Mas primeiro trata-se dos c- das crianças todas e depois então é que se sentam os adultos, a comer e a beber, à vontade. Isto é
INQ E ganham assim…
INF1 É, isto é, eu Quer dizer, isto é uma coisa que tem…
INQ É uma tradição de, de sempre.
INF1 É uma tradição antiga, mas uma tradição – como é que eu hei-de dizer? – que [pausa] torna-se às vezes até… Para mim, eu sinto-a muito, é uma tradição que eu sinto-a e choco muitas vezes [vocalização] quando vejo aquelas crianças todas sentadas a comer, porque aquilo ali não há defeitos. Aquilo são as pessoas que sentam ali à mesa, às vezes, cento e cinquenta e a duzentas crianças – não é? – e quer esteja insonso, quer esteja salgado, quer esteja mal cozido, quer esteja bem cozido, para aquelas crianças está sempre bom, [pausa] está a perceber? Aquilo ali não há defeito. É das pes- É dos jantares que eu gosto imenso de assistir é ao jantar das crianças e que o faço sempre. Em toda a banda que vou, dá-se sempre o jantar das crianças.