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TRC19

Fontinhas, excerto 19

LocalidadeFontinhas (Praia da Vitória, Angra do Heroísmo)
AssuntoAs festas religiosas e profanas
Informante(s) Brás Bráulio

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INF1 São seis semanas seguidas, tal e qual como isto é. Seis semanas seguidas. Ou seja, oito seguidas, que são oito oito semanas.

INQ Pois, porque são as seis domingas a seguir à Páscoa, mais o Espírito Santo, mais a Trindade?

INF1 Exactamente. [pausa] Exa [pausa] Exactamente.

INQ E as domingas do Espírito Santo e da Trindade são iguais a estas?

INF1 São, são, são. Quer dizer

INF2 Não são, não. Ele tem a distribuição do compromisso, não é?

INF1 É exactamente. É a distribuição do bodo, é as tais

INQ Pois. Mas a do Espírito Santo é igual à da Trindade?

INF1 É exactamente.

INQ Pois. E qual é a única, o que é que tem de diferente? O que é que se faz de diferente?

INF1 Não. É não haver o bodo. Os úl- Os primeiros seis, não bodo aqui [pausa] no arraial; aquela festa em casa do imperador [pausa] que prometeu isso, não é?

INQ Do imperador, pois.

INF1 E aqui o bodo dos irmãos todos da freguesia.

INQ Então, conte como é que é esse bodo da?

INF1 O bodo é o [vocalização] é no [vocalização] domingo da Trindade, não é? É.

INQ No domingo do Espírito Santo não fazem?

INF1 É. São dois domingos.

INQ Dois domingos.

INF1 É.

INQ Um que se chama do Espírito Santo e o outro que se chama da Trindade?

INF1 Um Espírito Santo e o outro [pausa] da Trindade. São os dois.

INQ E em qualquer deles bodo?

INF1 Sim senhor.

INQ E o bodo então faz-se?

INF1 O bodo No dia do bodo, então, o Senhor Espírito Santo quando sai daqui da igreja, que vem de casa do imperador

INQ Pois.

INF1 coroado, vem acompanhado com o senhor padre e a filarmónica e vêm, entra tudo aqui dentro, na despensa. Vem benzer o pão. Depois de benzer o pão, o Senhor Espírito Santo vem para aqui. E o senhor padre recebe ali uma uma rosquilha e um pão de bodo, que vem a ser um pão de água. E vai-se embora. Os mordomos, depois então, e mais as pessoas que convidam [vocalização] fazem uma distribuição aqui neste largo a toda a gente que aparece aqui. E dois homens no caminho: um naquela ponta, outro nesta; todas as pessoas que passarem, de fora da freguesia, quer seja de carro, quer seja de camioneta não é? , toda a gente tem que parar e entrar aqui dentro. Entram aqui, [vocalização] comem massa, bebem vinho. Não entram Ninguém lhes chama para dar nada, não é? Esse que quer dar alguma coisa, ; porque quer. E [vocalização] a distribuição em geral, para toda a gente. Depois de essa distribuição feita, uns foguetes, muitos foguetes, que se acabou o bodo. As pessoas cada qual vai para sua casa. [vocalização] O [vocalização] O imperador tem os seus convidados todos e segue com o cortejo, com o império, para a sua casa; e vai dar o mesmo jantar que se deu nas semanas de anterior, está a perceber? Quando o jantar, volta para aqui [pausa] da parte da tarde. Vem para aqui e então aqui ele traz umas rodas de carne, traz [vocalização] açafate com laranjas, traz duas latas de queijadas, traz duas latas de suspiros, ou seja, um cento de cada: um cento de laranjas, um cento de [vocalização] de suspiros e um cento de queijadas. [pausa] Quando ele chega aqui, àquelas pessoas que foram na vereança que a gente chama àquele que foi coroado, e ao que leva aquela insígnia, ao outro que leva a bandeira, e que vem a ser trinta pessoas , ele um serviço a cada pessoa. Serviço esse que a gente chama que é: uma laranja, uma lima e uma queijada, [pausa] e um suspiro uma laranja, [pausa] uma queijada e um suspiro! [pausa] que ele oferece a cada um. E oferece o mesmo aos mordomos que estão ali, que são aqueles que tomam conta do pão e do vinho, está a perceber? E depois disso, saem os rapazes Ele, nessa altura, a filarmónica está a tocar ali no adro, toda a tarde, toca ali. [vocalização] Saem uns rapazes com esses serviços que a gente lhe chama, não é? nuns pirezinhos, e vão por esses rapazes que estão namorados, distribuírem um; e depois o rapaz fica com aquele serviço não é? , dois escudos e meio ou cinco escudos na bandejinha, e depois, pega, vai oferecer à sua namorada aquilo, como foram oferecer a ele.

INQ Pois é.

INF Uma coisa que vem que eu sempre me lembra de isso se fazer. E [vocalização] o bodo continua assim durante a tarde. Quando é ali à tardinha, muitas pessoas que oferecem uma galinha ao Senhor Espírito Santo e, às vezes, junta-se aqui umas vinte, vinte cinco galinhas, não é? uma arrematação, [pausa] aqui, onde essas pessoas que estão aqui presentes que isto tem aqui muita gente, não é? e [vocalização] dão em picar e arremata-se as galinhas aqui.

INQ Portanto, essas galinhas foram oferecidas em promessas, pois?

INF Foram oferecidas em promessa, não é?

INQ Pois, pois.

INF Depois [vocalização] Como também pessoas que oferecem um leitão. Vêm aqui [pausa] à porta e a gente arremata-o aqui, toda a gente está aqui, e o que mais é que fica. Como também muitos que oferecem um bezerro; também muitas pessoas que oferecem um bezerro.

INQ Tudo isso é arrematado nessa altura?

INF Tudo isso é arrematado nessa altura. É os rendimentos que esta casa tem são esses, não tem mais. Depois a gente faz contas ao dinheiro. Se a gente diz: "Olha, pois então este ano temos dinheiro que a gente talvez pudesse compensar aquilo que a gente tem em falta" não é? , a gente utiliza o dinheiro logo naquela falta que temos, está a perceber? A gente praticamente estamos sempre em dívida. A gente entrega sempre dívida de um procurador ao outro. Nunca entregamos dinheiro. Porque [vocalização] o senhor sabe? [pausa] eu estou, quero fazer o mais e o melhor possível não é? , pois trato de fazer tudo por tudo, ele chego ao fim não tenho dinheiro, pois gasto algum da minha algibeira e tomo nota e apresento facturas não é? , e [vocalização] para o ano que vem nomeio aquele. Depois digo: "Olha, tem paciência, eu dinheiro não tenho! Entrego-te a dívida"! E ele por qual é a razão que eu entrego dívida não é? e procura trabalhar durante o ano, compensar algumas coisas que faltam não é? , e no fim do ano, coitado, também vê-se à rasca, não entrega dinheiro, entrega dívida.

INQ Dívida também.

INF Pois é, porque também vai fazer mais do que aquilo que ele pode.


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