INF1 E a mim os lobos fizeram-me a meter ao, com licença de vocês, com o cu atrás duma – em cima, num prédio. Estava lá a dormir mais o meu pai e o meu irmão – que ainda aí está – e eu tive medo. Se não tivesse medo, dizia que não tive, mas tive medo. Estávamos lá a dormir e quando, [pausa] lá pela noite adiante – a gente lá em cima deitava-se mais cedo que aqui –, lá pela noite adiante, começa o cão: "Ui, ui, ui, ui, ui, ui"! Acordaram-me: "Ó meu pai, andam aí os lobos". E diz ele assim: "Andam, andam"! Botaram-se-me ali às cabras na da Rosairinha – era um lameiro que lá estava… "Eu vou lá ver"! Então eu levanto-me, tranquilo… [vocalização] Eu ia desarmado [vocalização], e e levanto-me, abro a porta e já… Quando eu abri a porta, ao mesmo tempo que abri a porta, saltaram para de cima do cão, que o cão que estava ali à porta. [pausa] E o grande ladrão quando me vê a descer ali, em ceroulas, com a vela, quase que lhe parecia que eu que era alguma ovelha branca [vocalização] e deixa de morder o cão, direito a mim. E quando ele veio também é que eu tive medo.
INQ Claro.
INF1 Fico a meter ao cu atrás – ao cão já o traziam debaixo –, [vocalização] ao cu atrás, e disse: "Ó meu pai, acuda-me aqui"! Lá se levanta o meu pai e um irmão que eu ainda tenho – sim, ele éramos quatro, agora já somos só dois –, e lá vem o meu pai e meu irmão, e vimo-lo escapar aí , aqui por este lado do do nascente. O cão esteve-se ali um pouco a confranger, rompeu por aí abaixo, saiu de lá com outro: um veio fazer frente à corte; e o outro andava lá com umas milhas, ou maçarocas, ou ou figos, que havia lá naquele tempo. Mas a gente era: "Olha os ladrões"! Olha, aí diz o meu pai: "Olha que foram os que me ali deitaram às cabras, aqui na da Rosairinha. Deitaram-se ali às cabras e ele [pausa] não levaram nem uma! Vá lá, ainda tive sorte"! Bom, deitáramos então, mas já estávamos ali muito tempo sem dormir, porque era lá na serra, já tínhamos dormido. E o cão estava sempre: "Oh, trrr-trrr"!
INF2 Era um sinal.
INF1 Porque era lá muito batido deles.
INF2 Era um sinal.
INF1 E uma bela altura, o cão dormiu. Nós depois quando lá não dormia ninguém, metíamos o cão lá no palheiro, para eles não lhe morderem. Mas certa altura não metêramos lá o cão, viéramos embora. [pausa] Os ladrões foram lá, roeram a metade da porta e depois, com licença de vomecês, não puderam vingar no que lá viam, cagaram lá.
INF2 Cagaram lá à porta.
INF1 Cagaram lá à porta, lá estava uma merenda. E lá estava a po- a porta toda roída. Depois comprámos-lhe até uma folha de zinco, 'pusémos-a' lá, que lhe ainda lá há-de estar. Porque [vocalização] o nosso gado, o nosso e o desse ali, estava num ermo.
INF2 Estava muito longe!
INF1 Era muito longe. Já estávamos De Verão e de Inverno lá estavam na serra. Só de lá vinham quando a neve era muita. E talvez os senhores vissem agora aqui há uns dois anos ou três, os avi- [vocalização] os helicópteros a acartar as vacas
INQ Sim, sim, sim. Claro, vi, vi!
INF1 as vacas da da serra para baixo.
INF2 Da serra para baixo.
INF1 E agora tornam lá a andar.