INF1 Aquela manteiga, pronto! A gente não tem máquina…
INF2 E onde se deitar o leite…
INQ1 Espere.
INF1 A gente não tem máquinas para isso. Mas antigamente estavam cá algumas três, quatro desnatadeiras. Isto era o leite das das vacas, que as cabras não.
INQ1 Sim senhora.
INF1 E a gente ia lá, botava o leite àquela máquina, saía a [pausa] a nata por um lado, e o leite saía por o outro.
INF3 À volta.
INF1 E depois havia: a gente juntava aquela nata numa panela toda a semana; ao fim-de-semana, havia então outra máquina para se fazer a manteiga. A gente deitava para lá aquelas natas e estava um bocado assim a bater, [pausa] e saía então a…
INF3 Era no tempo da escravidão!
INF1 Faziam então a manteiga. E aquelas senhoras iam vender a manteiga à Covilhã e depois [vocalização], pronto, conforme a, a os quilos que a gente tinha é que elas pagavam.
INQ1 Ah! Portanto, a manteiga era feita também no sítio? Não era a senhora que fazia em casa?
INF1 Não, não. Não, não.
INQ1 Mas o queijo sim?
INF1 O queijo sim. O queijo faz a gente em casa.
INQ1 Rhum-rhum.
INF1 Mas a manteiga não. Porque a gente era preciso ter aquelas máquinas para fazer a manteiga, [pausa] e a gente não as tinha.
INQ1 Rhum-rhum.
INF1 Mas havia aquelas pessoas. Estavam cá pelo menos umas quatro, umas quatro. Claro, se iam desnatar… Por exemplo, eu ia desnatar a uma que chamavam a Docelina Hermógenes. Outras já iam desnatar ao Deodato Hermógenes. Outras iam desnatar à Domingas. Era assim, cada um lá tinha…
INQ1 Havia…
INF3 Havia o pessoal…
INF1 Cada um lá tinha lá tinha as suas freguesas.
INQ1 Sim senhor.
INQ2 E quem é que vendia a manteiga? Era a senhora depois? Ou era a outra?
INF1 Não, não. Era Era as donas das máquinas.
INQ2 Ah!
INF1 [vocalização] A gente fazia a manteiga, elas pesavam e depois iam-na vender à Covilhã.
INF3 Levavam o que queriam.
INF1 Elas iam todos os, todos os…
INF2 Ficava na Ficava na consciência delas, o peso – não era? –
INF1 Pois, pois.
INF2 se era um certo, ou não.
INQ2 Pois, pois.
INF1 Não. Elas pesar, pesavam-na logo na frente da gente. Por exemplo, se estava a trinta, pronto, elas lá tinham o ganho delas lá [vocalização] … A nós 'pagavam-nos-a' a trinta, lá na Covilhã, a gente não sabia como lha pagavam a elas, não é?
INQ1 Quanto era.
INQ2 Claro.
INF1 Pronto, elas lá tiravam o [vocalização] ganho delas e a nós, conforme os quilos que levavam [pausa] é que nos pagavam.
INQ1 Rhum-rhum.
INQ2 Pois.
INF1 Era assim. Elas iam todos os fins-de-semana. A gente fazia a n-, a [vocalização] a manteiga era à sexta-feira. Andávamos toda a semana a lá ir desnatar o leite para uma panela. E quando era então à sexta-feira, a gente fazia a manteiga, elas pesavam-na, ao sábado iam-na vender e à noite faziam-nos a féria à gente.
INQ1 Rhum-rhum.
INF1 Era. Era como é que era assim um empregozito.
INQ2 Pois.