UNS42

Unhais da Serra, excerto 42

LocalidadeUnhais da Serra (Covilhã, Castelo Branco)
AssuntoO lenhador e o forno de carvão
Informante(s) Dimas Diodoro Donzília

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INF1 Uma vez a um colega meu, acendeu-se-lhe o carvão dentro da saca,

INQ Pois.

INF1 o gajo com as sacas às costas e o carvão a arder por trás.

INQ Que horror!

INF1 O Dióscoro Velho. Foi no sítio da corda. Ele ia com aquilo às costas, duas sacas, e o lume numa saca. Foi no sítio onde ia a corda, o lume chegou à corda, caiu-lhe aquilo das costas para baixo.

INF2 Traçou-lhe, claro. Traçou-lhe a corda.

INQ Pois.

INF1 E, bem, isto também era com muito sacrifício. Muito sacrifício! Ai!

INQ Pois claro. Mas iam várias pessoas fazer o carvão? Não ia , não ia um homem sozinho?

INF2 Ia muita gente.

INQ Não, mas podia ir uma pessoa sozinha fazer carvão ou iam dois ou três?

INF2 Iam.

INF1 Não, cada um Quando havia [vocalização] Bem, uma pessoa sozinha podia ir, mas, no geral, sempre havia quem fosse. [pausa] Se não fossem daqui, ia-se sozinhos e encontrava-se mais no caminho. Nesse tempo não havia fábrica. Encontrava-se mais no caminho e depois se juntavam.

INQ Rhum-rhum.

INF1 Uns para aqui, outros para além, mas logo perto uns dos outros, e tal, e era assim.

INF2 Eu ainda vi fazer carvão ao meu pai também.

INQ Mas era difícil!

INF1 Ai, muito sacrifício!

INF2 Eu ia com ele. Ajuntava-lhe as torgas, e tudo.

INF3 À minha mãe é que ninguém a apanhava a fazer carvão.

INF1 Muito sacrifício, muito!

INF3 Ah, e depois foram logo para a fábrica.

INQ Pois.

INF3 A minha mãe não não queria ir para o carvão.

INF1 E a brasa E a brasa, sabem como é?

INQ Não. Mas a brasa é muito diferente?

INF1 Car- Carvão é carvão [pausa] e a brasa é diferente.

INF2 E a brasa é

INQ Então o que é a brasa?

INF1 A brasa é [vocalização] carvão mais miudinho, [pausa] o carvão mais miudinho.

INQ Ah!

INF3 Que se queimava antigamente nas braseiras.

INF2 Eu até tenho além brasas feitas que me deram.

INF1 Por exemplo, quero ir fazer uma saca ou duas de brasas. Ia por acima, levava uma roçadoira como o senhor mostrou num papel , [pausa] levava uma roçadoira, levava a corda, dois sacos, um bocadinho de merenda do que havia e ia a gente para o destino. Chegava então a um giestal [pausa] giestas, giestas pegadas, pegadinhas, que quase que se não passa no meio, e muito altas, quase da altura aqui deste tecto , chegava a gente ali [vocalização], giesta que fosse grossa: "Bem, aqui serve. Vou ficar". Começava então com a roçadoira que é esta curva , começava ali a roçar giestas para o monte, cortar e deitar para trás, cortar e deitar para trás, [pausa] até me parecer que vir- até me parecer quand- que eu visse as horas de [pausa] para fazer a brasa.

INQ Pois.

INF1 A, a [vocalização] A brasa é mais depressa que o carvão.

INF2 É mais rápido.

INF1 Fazia ali um monte de giestas cortadas, grossas [vocalização] grossas aqui quase como o meu pulso , outras mais miúdas, e tal, tal, tal. Chegado, tinha Fazia ali um grande monte e depois chegava-se a altura de lhe deitar o fogo. Era o mesmo processo do carvão, mas ardia mais depressa.

INF2 O poço era a mesma coisa.

INQ O poço era a mesma coisa?

INF1 Era lenha mais miúda. Era lenha mais miúda. Deitava-lhe o fogo, fazia ali uma fogueira enorme, enchia fazia a mesma poça, ou ainda maior, que a brasa fazia-se mais muito.

INQ Rhum-rhum.

INF1 Fazia ali uma grande poça [pausa] e era igual. Deitava-lhe a lenha toda que tinha que tinha cortado, e deitava tudo ali para dentro

INF3 Olha, está a dar o coiso.

INF1 [vocalização] Depois arranjava uma forcalha. A lenha ardia Era A lenha era a mais comprida, lenha com com dois metros, ou um, ou como calhar.

INQ Pois.

INF1 Deitava tudo para a poça e depois ficava umas pontas que não ardia, que não calha- não cabia toda na poça. E depois arranjava uma forcalha, nas pontas que ficavam fora, virava-as para dentro, tudo ardia, da outra ponta igual, ia estando tudo ardido. Isso a brasa era muito mais depressa. Muito mais depressa!

INQ Pois.

INF2 Mais à pressa.

INF1 Era quase em metade do tempo. Depois de tudo ardido, era igual, a tapar, a tapar, a tapar. Mas a [vocalização] giesta ardia mais depressa. Chegava ao cimo, ficava um bocadinho, e tal. Se houvesse algum bocadinho de mais grosso, e tal, para não estar a entreter, deitava-a fora, não servia. Tapava tudo, fazia o mesmo terreirozinho varrido, [pausa] com um sacho, inclinado.

INQ Pois.

INF1 Tirava a brasa exactamente como o carvão, com um sacho; corria-a com a vassoura ali por por o terreiro abaixo; e vendo que que tal, metia-lhe o saco ao fundo, ia dentro das sacas: "Ala embora"!


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