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AAL66

Porto da Espada, excerto 66

LocationPorto da Espada (Marvão, Portalegre)
SubjectNão aplicável
Informant(s) Alcibíades Alice
SurveyALEPG
Survey year1974
Interviewer(s)André Eliseu Gabriela Vitorino
TranscriptionAdriana Cardoso
RevisionErnestina Carrilho
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationCatarina Magro
LemmatizationDiana Reis

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INQ1 Dantes havia aqui muitos contrabandistas, não havia?

INF1 Havia muitos. Eu também ainda fui.

INQ1 Também?

INF1 Ainda. No tempo do azeite, [pausa] também ainda fui. Mas eu [vocalização] fui pouco tempo. Ainda bem não, acab- acabou-se o dinheiro, acabou-se o o negócio.

INQ1 Como é que era? Ia levar o azeite para ?

INF1 Íam- Íamos levar aqui. Íamos buscar para . Pois. Íamos buscar ali, aonde lhe chamam as Hortas, Porto de Roque. é que o íamos buscar, de noite, às escuras [vocalização] noites muito escuras!

INQ2 Então, e não tinham medo?

INF1 Ora, medo!? Tínhamos medo mas era dos bonés, dos guardas. O mais, assim de medos, não tínhamos medo. Se apanhávamos cada molha por essas serras! [vocalização] Pois, era isso.

INQ1 Mas ia um homem sozinho ou iam muitos?

INF1 Íamos muitos; chegámos a ser cinquenta.

INQ1 Todos juntos?

INF1 Tudo enrabeirado uns atrás dos outros. Tudo! Aquilo parecia uma chibatada. Aqui se esbarrondava uma uma pedra, além outra. [vocalização] Pois bem, a gente por aqueles por aqueles campos fora, por essas serras.

INQ1 Passavam por sítios onde sabia que não havia guarda, não é?

INF1 Pois. Ora, mas eles, ainda bem não, chegavam ao da gente. Aquilo, ainda bem não, era uma derrota.

INQ2 E o que é que faziam?

INF Ora, tiravam-nos co- os coiros. E corriam atrás da gente para nos apanharem.

INQ1 Tiravam o quê?

INF1 Os coiros, onde a gente trazia o azeite.

INQ1 Dentro do quê?

INF1 Dentro duns coiros. Com umas peles de cabra é que trazíamos o azeite. Pois, era umas coisas assim; [pausa] eram as peles das cabras e depois preparavam-nas para a gente trazer o azeite.

INQ1 Mas eram as peles inteiras ou era?

INF1 Pele inteira. Pois, era a pele inteira. Até mesmo propriamente nas patas. Até, por exemplo, assim ao meio da pata e depois eram atadas e vinha [pausa] até mesmo à onde era a cabeça, também. Chamavam-lhe um coiro. trazia a gente aquilo às costas. Pois. Ia a gente buscá-lo.

INQ1 Compravam e vinham vender ?

INF1 Pois.

INF2 Foi sempre na pobreza.

INF1 Era o tempo da pobreza, naquele tempo era

INF2 Por isso é que se chamava a pobreza.

INF1 Pois, era o tempo da pobreza. Pois. [vocalização] Então Foi o contrabando que usei foi aquele. E foi pouco tempo. Foi uma questão de dois meses, talvez. Pouco tempo. Ainda bem não, tiraram-nos os coiros, olha, acabou-se. Acabou-se o negócio.


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