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AJT29

Montes Velhos, excerto 29

LocationMontes Velhos (Aljustrel, Beja)
SubjectNão aplicável
Informant(s) Iria Herodiano
SurveyALEPG
Survey year1983
Interviewer(s)Gabriela Vitorino
TranscriptionSandra Pereira
RevisionAna Maria Martins
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMárcia Bolrinha
LemmatizationDiana Reis

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INF1 O que eu comia que eu gostava era o tal pão, o de cão, pão de rolão, que amassavam para o para os cães.

INF2 Pois.

INF1 Então e eu não gostava daquilo?! Comia aquilo!

INF2 nos montes.

INF1 Nos montes faziam .

INF2 nos montes. Nos montes faziam essa coisa.

INF1 no monte do meu padrinho, tinham cães e depois f- amassavam o comer.

INF2 Aquele pão de rolão.

INF1 Ali o rolão, amassavam para [pausa] para os cães.

INF2 Para os cães. Não tiravam o rolão da farinha.

INQ Pois.

INF2 Não tiravam o rolão .

INF1 E E eu era [vocalização] miúda, eu gostava de comer aquilo! Eu e outros miúdos comíamos!

INF2 Ah, até eu! Então e a gente achava diferença: o pão dos montes era sempre mu- Está claro, era gente, gente gente que amassavam muito.

INF1 As nossas mães zangavam-se com a gente. E a gente era comer o comer de cão. Ah, mas a gente gostava!

INF2 Amassavam muito, e depois davam as esmolas. Nesse tempo, nos montes, davam esmolas, para os pobres, e tal. Alguém que ia coiso, , um bocadinho de pão. Metade dum pão, que havia uns panitos pequenos, cortavam o pão ao meio e davam metade dum pão a cada um, e tal. [pausa] E [vocalização] E então esse pão era sempre trabalhado mais mal trabalhado, que era, por exemplo, numa casa como a minha. [pausa] E esse pão ficava sempre um bocadinho doce. Doce. Deixavam o pão doce. E coisa e tal, tal, tal. E a gente quando era moços Eu uma vez ainda me lembra de ir uma vez fui além ao Carregueiro mais um. Depois vínhamos com a fome. Fomos ao Carregueiro, e de Aljustrel, nesse tempo, havia a estação do Carregueiro. E essa gente tinha uma loja e fomos. O moço desafiou-me para irmos numa carrinha e fomos ao Carregueiro. Quando viemos para , diz el- diz-me o moço assim: "Vamos pedir uma esmolinha aqui à Minhota"? A Minhota está ali à beira da estrada. "Vamos". E eu fui. Então eu usava uma boininha, pus a boininha assim nos olhos e fui. Lembro-me de ir. Tinha para ali uns sete ou oito anos. pedi uma esmolinha à coisa, à lavradora da Minhota. Ah, batemos à porta, quem é e quem não é, mas a mulher viu logo que era gente preparados, bem preparados, começou logo a mirar. Diz: "Hm! Vocês não têm tipo de" E o coiso deixámos a carrinha na estrada, eu mais o moço do Hipólito, do Hipólito do Monte Espada, o mais velho.

INF1 Ah, o Honorino.

INF2 O Honorino. É com certeza mais velho do que eu, tinha mais uns dois anos de que eu. Ele tinha uns doze anos ou coiso, e eu tinha uns nove ou dez, uma coisa dessas. E então fomos. A gente tinha um bocadinho de grisa [pausa], de fome, e coisa e tal. E depois a mulher vem de , mas a mulher achou logo a roupa assim muito coisa, muito Calçadinhos e e bem preparados, a mulher ficou logo assim sem acreditar. E então começou a fazer perguntas: "E então tu és de quem? Então tu és de quem"? A perguntar a ele. "Eu sou filho do senhor Hipólito do Monte Espada", e tal, disse o outro. "Eh, então o teu pai tem uma loja, então e agora viestes à esmola"?! "Ah, olhe, a gente ia passando aqui" ele era assim muito desenrascado "a gente ia passando aqui e tínhamos fome, viemos pedir um bocadinho de pão". E ela cortou um panito desses do monte ao meio e deu metade a cada um. Depois pôs-se a olhar para mim e eu pus a boina assim, e eu não lhe queria dizer coisa e ela de roda de mim. "Então este é do Hipólito do Monte Espada, então e [vocalização] e [vocalização] tu és de quem"? E eu nada, e eu nada. Não lhe disse nada, e eu agachado. Agachava-me. Nada. O outro cabrão era muito coiso, era muito assim, muito alarve, assim que ela apertou ali duas vezes, diz ele: "E aquele é do Horácio". "Ah"! Diz logo a magana da Jaquelina: "Então esse é meu primo! Então esse é meu primo! É por filho da prima Isabel? É filho da prima Isabel castelhana"?, e tal, tal, tal. "Olha, come". "Então a ver se me dás bocado de pão, que eu te digo"! Assim que lhe apanhei o tassalho de pão, raspei-me, fui-me embora! Risos Não fazia o mesmo. "Quem era? Quem era"? Digo: "Vai passear"! Oh, então e cale-se daí! Depois sentámo-nos na carrinha, viemos comendo o panito até à vila. [pausa] "Ah, panito tão bom, homem! Ah! Estou mesmo com vontade de voltar para trás e ir buscar"! Pois se eu não tinha pão melhor em casa que era aquele! Mas o pão era assim doce, e coisa, e era a fome, que eu tinha fome. Mesmo sem conduto. Se fosse em minha casa não o queria, sem um bocado de queijinho, ou um bocado de linguiça, ou qualquer coisa. Mas aquele papei-o muito bem, soube-me bem. Risos Aqui, dizem que o melhor conduto que que é a fome.

INQ É a fome.


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