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ALC20

Alcochete, excerto 20

LocationAlcochete (Alcochete, Setúbal)
SubjectO lenhador e o forno de carvão
Informant(s) Anselmo
SurveyALEPG
Survey year1990
Interviewer(s)Manuela Barros Ferreira Luísa Segura da Cruz
TranscriptionSandra Pereira
RevisionMaria Lobo
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationCatarina Magro
LemmatizationDiana Reis

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INQ1 Olhe, e o senhor disse que hoje, actualmente, as pessoas se aquecem mais com carvão.

INF Pois.

INQ1 Como é que se faz o carvão, o senhor sabe?

INF Como é que se faz o carvão? O carvão é da sobreira. É os paus da sobreira.

INQ1 Os paus de quê?

INF Da sobreira! [pausa] É cortado a sobreira aos bocados [pausa] é como a madeira da sobreira , podem até deitar uma sobreira podem dei- até deitar uma sobreira abaixo, ou duas. É serrada, [pausa] aos traços, e depois é feita dentro dum, dum mo- dum monte chama-se aquilo um forno. É tapado com terra e depois larga-se fogo. E ali é que fazem o carvão. Está a moer debaixo daquela terra.

INQ2 Está o quê?

INF A moer! A arder! Está a moer debaixo daquela terra e está a deitar fumo. [pausa] De maneira que depois, passado uns tempos, vem os homens todos destapar aquilo está feito em carvão! Depois é ensacado em ca- em sacas e vem vendido para os carvoeiros, para venderem.

INQ2 Rhum-rhum!

INQ1 E não deixam umas coisinhas, uns buraquinhos para o forno respirar?

INF Isso os buraquinhos é por onde é que deita o fumo. Está sempre a deitar aquele fumo e está a respirar para fora.

INQ1 E como é que se chama a esses buraquinhos?

INF É os respiradouros.

INQ1 E o, aquele Não um sítio? Isso é nos fornos muito grandes

INF Pois.

INQ1 assim uma coisa onde se mete made-, por onde se mete a madeira para dentro?

INF Isso é a boca.

INQ1 Pronto. E quando está a meter a madeira, diz que está a quê?

INF Quando está a meter a madeira? Está a meter a madeira para, para para largar mais fogo.

INQ1 E depois para conseguir que aquilo, que ele deixe de arder?

INF Abafa-se com terra.

INQ1 E diz que est- E isso é fazer o quê?

INF É abafar.

INQ1 Abafar. Empoado, é? Chama-se aqui?

INQ2 Sim. Está aqui um empoar.

INQ1 Nunca ouviu falar em: "é preciso empoar o forno", não?

INF Empoar? [vocalização]

INQ1 Não?

INF Tenho ouvisto falar mas é abafar: que é para abafar, que é para deixar deitar a aquela coisa.

INQ1 O senhor nunca fez carvão?

INF Nunca fui, mas vi fazer.

INQ1 Aqui havia?

INF Havia. Aqui da charneca houvia. Havia tantos fornos disto!

INQ1 não ?

INF Agora não . [pausa] [vocalização] Houvia gente mesmo a fazer isso.

INQ1 Está tudo a acabar. É o moinho

INF Acaba tudo. [vocalização] Aqui, agarrado aqui, isso juntava-se se juntava sempre gente a fazer fornos de carvão. Houvia dois homens que vendiam carvão com duas parelhas de mulas [pausa] como esses carros do Alentejo , houvia dois: ele era o Arnaldo e era o chamava-se Aretino. Tinha uma parelha de mulas cada um e andavam sempre a carregar carvão da charneca, para venderem aqui em Alcochete. Andavam à roda da vila a vender às sacas e tinham casas a vender mesmo de propósito aos quilos.

INQ2 Rhum-rhum!

INF Isso acabou tudo!

INQ2 Rhum-rhum!

INQ1 Pois.

INF E não se um homem aqui perto fazer um forno de carvão [pausa] mesmo dentro da charneca. Não se . [vocalização], agora, mesmo o carvão, [pausa] se algum, é para o Alentejo! [pausa] Que está dois carvoeiros: [vocalização] aquele ali nem tem carvão, quase nunca tem; e está outro ali [pausa] É mesmo pouco que vem para . [pausa] É mesmo pouco que vem para !


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