INF Eu fui um, um um escravo em escr- escravidão… Quando quis orientar a minha vida – porque nada tinha, é claro, as coisas são assim, e eu fui um escravo –, eu cheguei a d- a me deitar ao mar, de noite, ir daqui [pausa] a remo. Ia-me deitar além à barra, de noite, ao mar, com água pelos peitos, nu, [pausa] para vencer a maré, para vencer a vida, para não voltar para trás, por causa que a maré não deixava a gente seguir. Porque não tinha-se motores, não tinha nada. Cheguei a ir nu. Chegava de fora da barra, dentro do Hugo, a tremer com o frio, quase quase a rilhar com a frieza. A gente chegávamos ao Hugo, que não tinha medo nenhum. Pois, e agora, agora, a pessoa já vai mais [pausa] tendo mais tremor, mais medo! Ele nunca me olhava a nada, nunca tinha medo nenhum! E mesmo… [vocalização] Então, que eu, eu andei vários anos aqui à vela, ao dia. Ia ao dia. Mas o senhor agora pode perguntar, pode calhar ali, ou pode perguntar a qualquer pessoa: o tio Aprígio, o rapaz que está lá abaixo, que já foi contramestre. Sem ser Aprígio há dois: há o tio e o sobrinho. Aprígio foi contramestre. Aprígio! E eles dizem-lhe… Se um qualquer querer dizer mal, mas os outros não deixam. À confiança.