INF Cá no Algarve é assim. Uma pessoa, a gente é pobre aqui. Juntar para umas casinhas, ah! Corri o arrasto, nada ganhei. E daqui ele daquilo também só dava andar do arrasto. Bom, andei a contramestre. [pausa] Ganhava mais que uma parte [pausa] e sempre favorecia, além de ajuntar mais que um camarada. Sempre vinha uns patacos. Os outros ganhavam uma parte, eu ganhava duas. Quer dizer, comia igual a eles e aquela parte era para forrar. Se desse para eles, também davam para mim. Por exemplo, ganhava num ano dez ou doze contos, ou quinze contos, ou dez ou doze – não era nada – ou quinze contos, que ganhava-se pouco, agora é que ganham mais. Quer dizer, com os dez ou doze contos comia igual a eles [pausa] e podia forrar cinco ou seis num ano; para o outro ano forrava sete ou oito, e para o outro ano… E assim forrado, já dava mais que uma parte, que uma parte só. E também andei em enviados, também dava mais uma parte e fui ajuntando os períodos. Há quem tenha uma ideia e há quem tenha outra. Ele é assim. A gente tem uma ideia que há-de chegar, e tem umas casas para morar; e outros não têm, a gente não pode vir lho dar. Agora quem não tem nunca ele lhe pode comprar.
INQ Pois é.
INF Sim, quem não tem nunca pode comprar. E as ideias não são iguais. Há quem diga assim: " [vocalização] Ah, isto é comer e beber enquanto são novos. E a gente cada qual tem a sua ideia". E eu digo então: "Comer e beber é depois de ir mais para a idade". Sendo novos, forramos e depois quando se chegar à idade mais avançada, já não se pode trabalhar, temos então é que comer e beber… Na idade é que é; uma pessoa quando se é novos, poder, que pode-se. Se se puder; e se não se puder, paciência. Mas da idade é que precisa a gente de ter mais conta. E há o contrá-. Há alguns que dizem: " [vocalização] Ah sendo isso de novos, é gastar e beber"… E mais tarde em sendo velhos?! Quando eles queixam-se quando a gente estamos a dar alguma coisa aos nossos filhos. É porque o diário do marítimo não é certo – se for só um diário. [pausa] Se fosse corrido, pois eu não me importava. Este ano ga- Este mês ganho dez, sei já que para o outro mês ganho cinco. Depois Pois eu não me importo, vou vivendo assim. Tenho o meu ofício. Mas não. Eu posso hoje ganhar seis, sete ou oito e para o mês que vem posso não ganhar senão dois ou três. [pausa] E assim como posso ganhar dez ou doze ou quinze ou vinte. Vou numa traineira e poupo o mais que eu puder. Portanto temos que deixar de moralizar umas pelas outras. Desde hoje temos que levar a vida [pausa] quando ela trama. "Olha eu agora vou-me alargando mais, pois tenho a vida mais larga"! A gente vai-se alargando conforme vai-se podendo. Tem Tenho sido períodos ruins, anos ruins, e anos bons de pesca. E tem tenho sido também anos de muitas fases pouco. Faltas é claro. Porque quem trabalha nunca sente muita falta, mas há anos mais melhores que outros. Há anos que a pesca falha. E aqueles que tem que nunca nada colhe pois estão mais mal… [pausa] Porque a gente não é não é uma coisa certa. A gente está acostumado, a gente diz assim: "Bom, este mês ganhei dez ou doze contos; vou-mos gastar". Mas lá vem outro mês que vem, não vem nada. A gente tem que deixar de pôr por umas coisas por as outras. Por isso deixa-se umas reservazinhas, vai-se deixando às vezes conforme se pode. Ah, não havendo doenças… A minha mulher é que tem sido… Eu tenho sido saudável. A minha mulher é que tem sido doente.