CBV29

Cabeço de Vide, excerto 29

LocalidadeCabeço de Vide (Fronteira, Portalegre)
AssuntoNão aplicável
Informante(s) André

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INF Porque eu sou natural de Cabeço de Vide [pausa] mas o meu pai era natural de Pedroso [pausa] e a minha mãe era natural da Beira. [pausa] Está a perceber? E então, quer dizer, isto é tudo enxertias.

INQ1 É tudo enxertias.

INF E então, quer dizer, tenho lidado [pausa] com várias pessoas: umas duma maneira, outras doutra; umas com um pensar, outras com outro pensar [vocalização] Eu sou um E eu gosto de conversar e de me entender com toda a gente porque não nada mais bonito [pausa] que é a boa união.

INQ1 Exactamente.

INF Não nada que chegue a isso. Nada! A boa união [vocalização] faz tanta falta como a saúde.

INQ2 É, é mesmo.

INF A saúde é a parte principal que faz falta, porque, se a pessoa não tiver saúde, não tem alegria, não tem nada. Tudo se estraga. [vocalização] E o fulano também se estiver metido [vocalização] inimigado com esta pessoa, com aquela, com a outra, com a outra [vocalização], às duas por três, passa por uma data de gente, isso é tudo inimigos não, ninguém. Ninguém quer falar. E então, não nada mais prático que é a boa união. Eu, uma ocasião, [pausa] enganaram-me. Fui daqui a Portalegre, [pausa] procurando por um especialista de ossos. [vocalização] E a informadora era uma pessoa que estava a passar [vocalização] bilhetes para para ir a este médico, ou para ir àquele e diz-me assim: " indo aqui ao ao Doutor Balcão". [pausa] "Então mas como é que se ele chama? É Doutor Balcão"? "É Doutor Balcão. O senhor tem de trazer uma credencial". Eu vim , pedi uma credencial ao doutor, que é essa estátua a que está ali no largo. E diz-me ele assim para mim: "Ó rapaz! Eu muito tempo que não caminho para o lado de Portalegre, mas parece-me que tu que estás enganado. [pausa] Não conheço nenhum Doutor Balcão". Mas eu tinha confirmado que ela que me tinha falado em Doutor Balcão. Eu digo: "Ó Senhor Doutor, eu Falaram-me em Doutor Balcão". "Está bem. A gente passa a credencial". Cheguei apresentei a credencial à pessoa. A pessoa esteve a ler aquilo e diz-me assim para mim: "Então donde é que você é"? "Sou de Cabeço de Vide". "Os de Cabeço de Vide estão para a dormir"? E digo eu assim para ela: "Então porquê"? [pausa] "Então, vem aqui Doutor Balcão. Então aqui algum Doutor Balcão"? [pausa] E eu faço aqui assim: "Então, donde é que a senhora é"? "Eu sou de Portalegre". "Então, olhe, eu não sei os quais é que estão a dormir, se são os de Portalegre, se são os de Cabeço de Vide. Até me parece que é os de Portalegre. Tal dia assim assim, estive eu aqui e foi você que me informou para o Doutor Balcão". [pausa] Mas eu fiquei esmarafado, [pausa] ia-me embora. Vai uma senhora qualquer, agarra-me aqui assim por um braço: "Onde é que você vai"? "Vou-me embora". "Não, não vai-se embora. Você peça à bilheteira e ela tem que lhe arranjar a consulta. Ela é que lhe deu cabo da consulta a você e ela é que tem que lha fazer". . [pausa] Eu digo: "Então, está bem"! Volto para . [pausa] Quando, a, aqu- Aquilo era bichas! Quando chegou à Quando cheguei outra vez e diz ela: "Então o que é que você quer"? "Quero que você me arranje a consulta. Você é que ma estragou". [pausa] "Espere um bocadinho". O número três.

INQ2 Ora .

INF Mas se não é a outra mulher, eu vinha-me embora. Estava um homenzinho, que era aqui de Santo Amaro, o homem deu por aquilo tudo. Mas a consulta era às três horas. Venho para baixo, assento-me ali num banco. [pausa] Estava o homenzinho, estava assentado além num banco, e eu fui, passei pela banda, fui-me assentar noutro banco, mais abaixo. Depois de estar assentado, o homem levanta-se 'daonde' estava [pausa] e foi-se sentar ao de mim. E diz-me assim para mim: "Ouça , então o senhor [pausa] se desentalou"? [pausa] Eu [pausa] parece que nunca tinha-o visto mais gordo, digo assim: "Então me desentalei de quê? Diga ". "Então não era você que estava à rasca ali, que não tinha consulta"? "Ai, eu , mas eu arranjei consulta". Disse eu para o homem: "Eu arranjei consulta". E o homem faz-me assim para mim: "Você se arranjou. eu é que me calha tão mal e não sou capaz de me arranjar". Digo eu assim: "Então, mas o que é que você queria? O que é que você vinha à procura"? "Ora, o que eu vinha à procura era tirar um dente mas cheguei ali passaram as senhas todas. Venho de Santo Amaro para aqui, estou num monte, custaram caro a arranjar outra pessoa para ficar no meu lugar, agora chego aqui Paguei o transporte para , vou pagar o transporte para e não e não tiro o dente. E ando à rasca com o dente, c- com dores de dente". Digo assim: "Então você estava disposto a, a arranc- a [vocalização] pagar a tiragem dum dente"? "Eu estava, sim senhor. Assim arranjasse uma pessoa" Digo eu assim: "Venha comigo num instante". [vocalização] Eu olhei para o relógio, vi que aquilo " está mesmo, com certeza, na hora de ele fechar a porta. Marche"! Chego ao fundo da escada, bati, chega uma senhora ao cimo da escada e diz aqui assim: " parou a consulta". E eu faço a queixa: "Ó minha senhora, eu não venho para ser consultado. Eu venho para pagar uma dívida ao Senhor Doutor".

INQ2 Ha, ha, ha!

INF [pausa] Não, mas é que era de verdade que eu devia.

INQ2 Ah!

INF Devia o arranjo de uma uma placa. [vocalização] "Então suba". Mas eu pus assim as mãos detrás das costas e fiz assim ao outro.

INQ2 Para ir atrás de si.

INF E o outro subiu [pausa] escada ac- coiso. Que eu tinha confiança com o médico!

INQ2 Pois claro.

INF [vocalização] Entrei para dentro e digo: "Ó Senhor Doutor, desculpe de eu não ter pago mais tempo, mas eu vim aqui em tal tempo assim assim e o senhor não estava . Entrei além em casa do seu vizinho e ele procurou-me se eu sabia quanto é que era a conta que eu devia, que podia deixar o dinheiro, q-, que o senhor doutor, que que era entregue o dinheiro. Mas o Senhor Doutor não me disse quanto é que era que eu tinha a pagar. E então, olhe, eu não deixei o dinheiro porque eu não sabia quanto é que tinha a pagar. Agora venho procurar ao Senhor Doutor quanto é que eu tenho a pagar". E e- E o homem faz-me assim para mim: "Olhe, pela sua prontidão, não é nada". [pausa] "Ó Senhor Doutor, veja se fica mal". "Não, não fico mal". "Ó Senhor Doutor, mas eu queria-o incomodar noutra coisa". "Diga o que é". "Está aqui uma pessoa assim assim, que foi ao coiso p- e gastaram as senhas todas. O homem está à rasca com uma dor de dentes. O Senhor Doutor não fazia o favor, mesmo pagando que o homem pagava , tirava-lhe o dente"? "Diga ao homem que eu tiro". [pausa] Oh! O homem [vocalização] estava atrás de mim, digo eu assim: ", entre". O homem entrou, tirou-lhe o dente. "Então, quanto é"? "Não é nada".

INQ2 Esse ganhou o dia.

INF Depois eu marchei pela Rua do Comércio abaixo e o homem atrás de mim a falar sozinho. O homem a dizer assim: "Mas então, eu não conheço o homem de lado nenhum [pausa] e agora o homem faz-me um trabalho destes?! Mas então o que seria isto? Isto seria algum milagre de Deus"? O homem a falar sozinho! Chega em baixo, de perto da árvore e diz-me ele assim: "Vamos ali beber um copo". Digo: "Olhe, eu acabei de beber agora. vomecê beber o copo. Ouça , você está contente ou não está contente"? "Estou, sim senhora". "Eu também estou contente à mesma. Pronto"!


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