INF A matança, pois ele as matanças aqui do nosso lugar era: praticamente toda a gente matava o seu porquinho por ano. Ou pobre, ou rico, ou maior, ou mais pequeno, todos matavam o seu porco. [vocalização] Muito diferente do que se faz hoje! As pessoas matavam… Na véspera da, do do dia de matar o porco, preparavam as morcelas. Picavam as cebolas, lavavam. [vocalização] Eu lembro-me de ser só cebola de casco cebola. Depois começou a aparecer a cebola de rama. As pessoas [vocalização] As pessoas faziam cebola… Porque a cebola de casco muitas vezes era custosa de conservar até matar um porco. Portanto, metiam na terra e faziam com a cebola de rama. Alguns faziam dum de rama e de casco. Partiam dumas e doutras e misturavam.
INQ Então aproveitavam a rama também da cebola para picar?
INF Sim. Ele a rama da cebola fazia… Ele havia pessoas que só gostavam de fazer ce- morcela com rama cebola de rama, outros só com cebola de casco. [pausa] De maneira que na véspera da matança fazia-se as preparava-se as cebolas, a salsa e [vocalização] e praticamente coziam um caldeirão grande de inhames. Não havia Não havia matança sem ter inhames. Aqui, a festa da nossa padroeira é a Santa Bárbara, que é no dia 4 de Dezembro, que sempre se fazia mesmo no seu próprio dia. Era o primeiro dia que se coz-, comia que se comia inhames era no dia de Santa Bárbara, e a seguir, o dia da matança. Porque, n- normalmente – era muito raro –, toda a gente matava o porco no dia da primeira novena do Menino Jesus. Era no dia 16. Ele mais ou menos esta zona aqui, sempre, – a falar no Cascalho de Cima, esta zona de Cascalho de Cima – matava toda a gente o porco no mesmo dia. Havia um único marchante. Só havia uma pessoa que sabia matar o porco. Portanto E ainda agora eles dizem que nem eles sabiam matar o porco, que era um trabalhão para matar o porco, para o porco morrer, porque tinham muito pouca experiência. Portanto, as pessoas matavam… Juntavam-se os homens da vizinhança e deitavam os porcos abaixo: "Vamos agora deitar os porcos abaixo". Deitavam os porcos no chão, matavam-nos… Era esse o único marchante que – era aqui até desta casa aqui ao lado – que passava as casas todas a matar o porco, e ficava a família da casa a limpar o porco. [pausa] Só que havia muita dificuldade em arra-, em em limpar o porco. Nem os porcos eram limpinhos limpos como são hoje, porque não havia ferramentas. O porco era lava- era limpo, era chamuscado com rameiras, que se ia buscar ao mato… Sim, então ainda antes disso, no dia an- na semana antes de matar o porco, ia-se buscar a rameira [pausa] ao mato, punha-se a murchar, e no dia de cozer o pão , tirava-se o pão e punha-se a rameira a secar no forno, para chamuscar o porco. Eu sempre me lembro de chamuscar os p- os nossos porcos foi com rameiras. Mas havia pessoas que até chamuscavam com palha de erva-da-casta e alguns até com molhos de espiga. Em [vocalização] nossa casa sempre se chamuscou o porco foi com rameira.
INQ A rameira é um que tem um tronco durinho e até que serve para fazer vassouras, é isso?
INF Grosso. [pausa] Sim, sim. Era.
INQ É aquilo que eles noutros sítios chamam vassoura?
INF Sim, é. A gente aqui chama rameira.
INQ Rhum-rhum.
INF De maneira que [vocalização] chamuscavam o porco com a rameira. Depois de o porco chamuscado, rapava-se o porco com pedras – não havia outra outra ferramenta. Rapavam o porco com pedras, iam-no esfregando, e depois lá tinham uma faca velha, uma coisa, que lá iam rapando e [vocalização] [pausa] rapavam como podiam. [pausa] Depois de estar o porco todo limpo, todo rapado, o mesmo que tinha passado a matar é que passava [pausa] a abrir o porco. As pessoas esperavam que ele abrisse numa casa para depois ir abrindo nas outras todas.