INF Ela ouviu, ouviu , ouviu e virou-se para ele e diz assim: "Olha, ou tu obedeces a este pedido, ou nunca mais aqui tornas". Ela para ele: "Ou tu obedeces a este pedido, ou nunca mais aqui tornas. Coitado do homem. Então estás a ver se lhe morrer o filho lá fora, como ele é"?! Morria a gente nossa lá fora!
INQ1 Claro.
INQ2 Pois.
INF Diz ela: "O que é que… Tu vê lá se lhe dás algum jeito". E ele riu-se. E ele: "Tu queres que eu perca o pão por causa dum soldado"? Diz ela: "Não perdes nada! Tu vai e fazes [vocalização]… E não tenhas medo". Foi isso. "O senhor quando vai embora"? Digo assim: "Ó meu tenente, eu [pausa] só vou domingo" – isto foi numa sexta-feira –, "só vou domingo"! "Pronto, o senhor, ao domin- no domingo, às duas horas" – que era o Viseu que passa ali que vai para Vi- para lá; [vocalização] para chama-se mesmo o Viseu, a camioneta –, "você [vocalização] apareça aí, no jardim, lá em baixo". Eu fui, esperei. À noite, o meu filho vinha do [vocalização] lá do mato, lá de coiso, das instruções, era companhias a vir, companhias e companhias, e companhias, e companhias, e eu não o conheci. Só o conheci quando ele ia a entrar ao, ao à porta de armas, é que ele alevantou assim o braço e é que eu o conheci. O moço lá foi entregar a espingarda, entregar lá as coisas dele, veio para fora: "Você que anda por aí a fazer"? "Olha, é assim, assim, assim". "Oh! Ó pai, vá-se embora, homem! Tenha juízo! Então você ia… Então você cuida que… Então já foi lido lá a ordem, e então você cuida que me tira de lá?! Eu tenho que ir. Há-de ser o que Deus quiser. Eu tanto posso morrer ou não morrer, mas [pausa] tenho que ir. Se eu não… Há-de ser o que Deus quiser". "Eu tenho fé que tu que não vais lá". "Não, pai"! "Não ande a gastar dinheiro". [pausa] Pronto, lá me fiquei. Quando foi no Quando foi no domingo, às duas horas, eu fui lá para o jardim, havia lá muita gente – muito mundo, muito furriel, com aquela gente –, eu não estava à espera. Ela veio, ela carregou para aí sete ou oito pessoas, com batatas, com hortaliça, que ela tinha uma quinta, aí boa, aqui San- em Santa Cruz da Trapa. Carregou aquilo tudo, ia-se tudo, deu-me um balãozito para levar [pausa] na mão, como essa pedra. Uma coisita na mão. Diz ela: "Venha". Eu abalei mais ela, diz ela assim: "Você descanse que o seu filho não vai lá fora". Oi, quando me ela disse aquilo! Ai, Jesus! "Não diga isso, senhora Berenice". "É verdade. Na altura que o seu filho for lá fora vou eu no lugar dele"! Ai! "Mas nós vamos para casa que ele está lá". Chegamos a casa e ele estava lá sentado, eu pedi licença outra vez, ele mandou-me assentar e esteve lá a conversar mais eu, diz ele: "Olhe, o seu filho não vai lá fora. O seu filho, eu tirei-o… Eu fui a Tomar, arranjei um militar e tirei-o de lá. Ele agora não vai. Mas na segunda-feira, quando ele era para ir para fora, ele sai primeiro que os outros, mas vai para Coimbra. Vai para Coimbra, para, para Tom- [vocalização] para Coimbra para o Centro de Mobilizações". Digo eu assim: "Mas ele ainda lá vai"… "Não vai mais! Você não, não descanse que ele não vai mais". E eu disse: "Ó, ó Ó meu tenente, quanto é que eu tenho a pagar"? Digo eu: "Quanto é que é o seu trabalho, meu tenente"? Diz-me ele assim: "Olhe, você a mim não me paga nada. Se quer dar alguma coisa é a ela! A mim não me paga nada". [pausa] Diz ela assim: "Eu não quero nada"! Digo assim: "O quê? Não, a senhora tem que pegar". "Não quero nada". Eu fui, agarrei naquele conto… [vocalização] Fiquei só com um conto de réis, agarrei em sete contos e dei-lhos. Ela não queria pegar mas eu meti-lho na mão e disse: "Olhe, isto é para o almoço. Para o jantar ainda cá estou. Isto é só para o almoço". Naquele tempo, era muito dinheiro!
INQ1 Pois.
INQ2 Pois.
INF Agarrei e digo assim: "Olhe, isto é para o almoço, que para o jantar ainda eu cá estou". Ele começou-se a rir e eu despedi-me dele, vim-me embora. Vim-me embora, o meu filho ao outro [vocalização] , na segunda-feira,
INQ1 Foi para Coimbra.
INF Coimbra. Coimbra. Esteve lá três meses. Ao fim de três meses, mobilizado para fora.
INQ1 Ah! Que horror!
INF Mobilizado, mas ele aí… Ela disse: "Olha que tu"… [vocalização] Ela disse para ele: "Olha que tu, se fores mobilizado, escreve-me, telefona-me ou escreve-me logo uma carta imediatamente, que eu vou lá". Ele telefonou-lhe, estava mobilizado, ela… Ele estava à porta de armas e ela chega lá – ela! "Ó Arquimedes, então estás aqui"? "Estou Estou-me. [vocalização] Ó senhora Berenice, eu estou aqui". Diz ela assim: "Dás licença que eu vá lá dentro"? Diz ele: "Vá. Entre". Ela entrou à porta de armas, lá voltou… Voltou, ele ele ainda estava à porta de armas quando ela veio, ela bateu-lhe assim no ombro, diz ela assim: "Olha, tu não vais lá mais fora. Quando tu fores, vou eu! Eu vou e tu ficas"! Assim, a rir-se logo. Olhe, passou ali o que anda… À noite, às seis horas, foi chamado ao Centro de Mobilizações, e dizem para ele: "Olha lá, tu não te- porque é que tu não disseste que eras só filho único e que, que que não querias ir para fora? Então tu… [vocalização] Veio aqui uma carta, assim, assim… Olha, tu se precisares de alguma coisa… Tu não vais para fora! Vai outro e tu ficas! E quando precisares de alguma coisa… E vais passar mais o tempo em casa"! Assim foi: se estava lá oito dias, estava aqui quinze.
INQ2 Ora.
INQ1 Pois, pois.
INF Estava lá oito dias… Olha, passou o tra- o tempo dele que foi uma beleza, sabe? E depois eu tornei lá e agradeci-lho bem agradecido. Olhe que ele chegou-me a dizer assim: "Nunca vi um homem pagar tanto como este homem! [pausa] O bem que ele queria ao filho"! Ah, pois! Pois eu, era aquele o filho!
INQ1 Claro, era o único.
INF E ele veio da, acabou o tempo dele, veio da da tropa, foi para a França.