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COV13

Covo, excerto 13

LocationCovo (Vale de Cambra, Aveiro)
SubjectNão aplicável
Informant(s) Arquibaldo
SurveyALEPG
Survey year1992
Interviewer(s)Gabriela Vitorino Luísa Segura da Cruz
TranscriptionSandra Pereira
RevisionAna Maria Martins
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMélanie Pereira
LemmatizationDiana Reis

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INQ1 Portanto, ele esteve emigrado em França ainda uns anos?

INF Esteve. Esteve

INQ1 Quanto tempo?

INF Oito anos.

INQ2 Pois. E estava casado, na altura?

INF Estava casado. estava casado. Veio de

INQ1 Mas a mulher A sua nora nunca chegou a ir para ?

INF Não, não, não. Ela ficou sempre a trabalhar para nós e [vocalização] trabalha. Ela não. Ela foi sempre uma mulher de trabalho, agarrada ao trabalho, cria vacas e [vocalização] é uma mulher amiga de [vocalização] ter, pronto!

INQ1 Pois, pois.

INF É uma mulher Olhe, ele, em classe de mulher, não arranjava melhor que aquela,, [pausa] para trabalhar. E não a queria!

INQ1 Ah!

INF Quem o obrigou a casar com ela fui eu. [pausa] Sabe? Não a queria porque ele [pausa] Ele namorava-a e ele tinha dezassete anos e namorava-a, mas quem me disse foi um vizinho meu: "Eh rapaz, o teu filho namora a Beatriz". E ele era novito! Ele com dezassete anos, mas era miúdo. "Tu és tolo! olha que eu, olha que ele vai, não, olha que eu Ele é um canalha, o teu filho"! "É verdade! Mas se não é, tu espreita. Tu" [vocalização] Nessa quinta que eu fiz, olhe, ela ela então andava a passar leite. Vinha aqui buscar o leite para levar para a fábrica para a Lomba. Diz ele: "Olha, tu vai espreitar que ela vai [pausa] de manhã, bem cedo, e ele vai para a erva" A minha mulher [vocalização] sofria muito das anginas e, às vezes, ficava para oito dias ou quinze dias sem sair da cama, [vocalização] mal da garganta, coisa. E depois ele ia, pegava numa corda e numa foucinha e abalava para a erva. E chegava isso ele ninguém enganava , chegava e ela vinha cedo, e ele chegava, ela chegava E outras vezes, escondiam a foucinha e ela vinha cedo: zumba, zumba, zumba, apanhava-lhe um molho de erva, e e pegava no molho, ela, e ele vinha com o latãozito na mão, e vinha por fora. Chegava ali onde eu tenho o palácio, que é ao fun-, ali ao fu-, ali no no lugar, e ela chegava , dava-lhe o molho a ele e ele pegava no molho e ela pegava no no latão e ela dava volta ao lugar [vocalização] a levar o leite e ia ele vindo. E ela ch- chegava e se ele estivesse salvava-o, ia-lhe a salvar e vinham eles ambos os dois. Sabe? Depois ele disse-mo e eu fui e disse-lhe para ele assim: "Olha, rapaz, eu ouço dizer que tu que namoras a Beatriz. Olha que ela é pobre. Olha que ela é pobre. Que são seis filhos, é uma casa [vocalização] pobre, vês? Eu achava melhor ver se arranjavas uma mulher que tivesse tanto como a ti. Ou [vocalização] que não tivesse tanto, mas ao menos metade [pausa] do que tu tens". Sabe o que me ele disse? "E você não casou com uma mulher sem nada"?! Que eu também casei com uma mu- com uma criada de servir.

INQ2 Pois.

INF Digo assim: "Olha, foi verdade, rapaz! Foi verdade! E eu governo-me. E governei-me e governo-me. E tu, também, eu não te digo que não cases com ela. Eu não te Eu não te digo que tu não cases com ela! O que é que se tens se tiveres [pausa] comes; se não tiveres, passas sem ele que eu também assim fiz"! , [pausa] Calou-se. Dali por um mês, um mês, uns quinze dias, um mês, o pai dela a tratar o casamento com a gente, [pausa] à noite. A minha mulher não queria que ele casasse com ela. Vai e, e e ele disse-me aquilo e eu fui-me enfiar na cama, que estivemos a conversar eu mais ela, e eu disse-lhe: "Olha, não adianta nada; o Arquimedes vai casar com a Beatriz". "Ai, e o que ela fez"! "Pscht, cala-te! Tu também não eras uma criada de servir? E não te querias casar e não te casaste? Então deixa-o . Não quero que lhe digas nada. É à vontade dele, e se é à vontade E ele quer [vocalização] aquela, muito bem. Se quisesse outra, era a mesma coisa, pronto! É à vontade deles. Ele quem se casa são eles"!

INQ1 Pois.

INF "Não somos nós, pronto"! Vai, [pausa] e ele foi combinou a mais [vocalização] o sogro que hoje é sogro dele combinou, naquele tempo, dar-lhe cinquenta contos, [pausa] à filha, e ele casar com ela. A cachopita começou a ficar por nossa casa a trabalhar. Dormir, dormia mais a minha irmã, a mãe do professor; mas trabalhar, trabalhava na nossa casa. A gente também servia a comida; e ela ia levar o leite e vinha e, claro, agarrava-se a trabalhar: ou ia à erva ou a cavar ou, pronto, a trabalhar.

INQ1 Pois, pois.

INF Passou-se. [vocalização] Quando foi nessa altura, [vocalização] combinaram dali por dois dias Ela foi levar o leite e chegou a casa toda lava- com as lágrimas por a cara abaixo. Disse: "O que é o que tu tens"? "Não tenho nada". "Que tu não tens nada? Isto, tu vieste a chorar! Que é o que tu tiveste te fizeram? Estás doente"? "Não". "Então o que foi"? "Olhe, o meu pai arrependeu-se [pausa] e agora não sei como há-de ser". Disse eu: "O teu pai não presta"! Eu fui logo assim: "O teu pai não presta. Um homem tem uma palavra, tem uma palavra! Está dada, está dada! Uma pessoa antes de dizer, dizer assim pensa-se. Agora tu Mas tu fazes é o que tu quiseres". A cachopita a chorar e ele disse: "Ai, sim?! Ai o teu pai está arrependido?! Também eu estou arrependido! [vocalização] Vai para longe. Se quiseres ir, vai; vai para donde anda o teu pai e eu" Olhe, ela se estivesse numa casa e ele chegasse, ela [vocalização] Ela e ele, suponhamos, ela estava dentro duma casa porque temos mais que uma, duas, três casas , e às vezes tinha que ir fazer qualquer coisa numa casa e ele sabia que ela que estava e ele não entrava . algum tempo agora não , mas algum tempo agora tenho água em casa , mas naquele tempo, ele havia uns canecos [pausa] que era para vir à fonte, uns canecos de madeira, e ele depois dizia dizer: "Eu quero beber". E ela ia-lhe buscar a água para beber e ele não pegava da mão dela. Não pegava da mão dela, não falava para ela, não não lhe erguia um mo- ?

INQ2 O seu filho?

INF Sim senhor! [pausa] E depois [vocalização]

INQ1 Então, mas, coitada, ela não tinha culpa. O pai é que tinha.

INF Pois ela não tinha culpa, mas ele, ele aborreceu-se de ele combinar e depois negar-se

INQ1 Pois, pois, pois.

INQ1 Pois.

INF Vai, ela andava por a chorar, volta e meia, ela a trabalhar Para não a ver chorar, um dia, calhou a água nossa e ela foi por essa quinta regar e eu fui para riba para para outras presas. E ouvia aquela voz a gritar, a gritar, disse: "Ai! Raios te partam! Queres ver que ela achou-se doente. E agora como é que vai ser"? Vim tapar a água, tinha as presas como estas, tapei-as e botei a ter com ela. "Olha , que é o que tu tens? Andas a gritar, que é o que tens"? "Olhe, sabe o que eu tenho? O Arquimedes é cartas e cartas" [vocalização] para uma vizinha que havia aqui nossa "e, e, e [vocalização] E que todos os dias, todos os dias, vem cartas para ela; e ele não fala para mim Ele Olhe, vou, eu vou Não sei o que há-de ser, que há-de-me Vou-me botar a matar"! Disse eu: "Não faças isso! Tu és uma tola. Não faças isso"! "Mas eu não eu não o herdei". Digo assim: "Cala-te, [pausa] que eu vou falar com ele a Viseu"! Fui um dia a [vocalização]

INQ1 Ah, foi quando ele estava na tropa?

INF Estava na tropa. E eu fui, agarrei, olhe, sabe o que eu fiz? Botei a Viseu. [pausa] Botei a Viseu [vocalização] e ele estava . Estava no, no no quartel fui num sábado , e ele não tinha instrução, estava no quartel. Eu fui, e fui à porta de armas e [vocalização] eu dei o nome dele, e ele [pausa] foi [pausa] O gajo foi chamar e ele veio. "Que é"? "Sabes o que é? Olha , tu, que vida é a tua com a Beatriz? Então, ela anda por a gritar, então que é aquilo? Eu não quero aquela pouca-vergonha na nossa casa. Tu o que andas a fazer. Então, eu não te avisei, Arquimedes, que tu que podias arranjar uma mulher com mais dote? Se ela é pobre, agora agora entende-te! Olha, sabes uma coisa"? E ele ainda: "Não a quero, não a quero"! "Não queres, [pausa] pois não"? "Não". "Metade é teu e metade é dela. Eu mais a tua mãe vamos-lhe dar metade a ela. Metade é teu e metade é dela. É uma irmã que tu tens. Que eu avisei-te e tu não acreditaste no que o teu pai te disse. Então agora metade é dela e metade é teu! Faz como tu quiseres". Ele pôs-se a pensar assim, a cismar , a cismar, a cismar [pausa] e eu disse: "Então olha , então não é vergonha?" que a Nossa a Nossa Senhora de Fátima anda todos os anos; vêm aqui aos lugares; andam por os lugares, de casa em casa, de casa em casa , "e se isso passou duas vezes e não foi a nossa casa" porque o padre dizia que eles que estavam amancebados, que estavam amigados, para não virem , que não a queria , "e passou e agora está a chegar outra vez e eu não tenho vergonha disso? Eu preciso disso para alguma coisa, rapaz"? Pôs-se muito carregado, muito carregado, [pausa] diz ele: "Olhe, você vá-se embora, vá-se embora e por Arões e diga ao padre que eu que eu quando for da tropa, caso com ela". [vocalização] Eu f- assim fiz. Disse: " , olha que tu não me enganes! Não vás tu dizer e eu ir para a [vocalização] dizê-lo ao padre e depois tu não, não, não o que tu fazes"! "Ó homem, [pausa] eu não sou o seu filho"? "És". "Então, esteja descansado". Vim por e disse ao padre, diz o padre: "Agora vai estar três dias em sua casa! [pausa] Três dias"! E se houver

INQ2 Que é para compensar.

INF É. "E se houver alguma Se ele lhe alguém disser alguma coisa, diga diga-lhe que foi à minha ordem. [pausa] Deixe estar a Senhora de Fátima". Esteve . Os vizinhos chegaram com a Nossa Senhora na, na na procissão, e eu disse: "Bote para aqui! Botai para aqui"! [vocalização] Eles [pausa] ficaram assim " disse: botai para aqui, para minha casa. Fica aqui. Fica aqui e fica aqui três dias; e se vocês não quiserem, ide falar com o padre". Eles calaram-se. [vocalização] Pfff, refilaram, eu mandei! Eles foram a falar, a falar Esteve três dias. Veio por o fim-de-semana, a abraçou e esteve mais ela, pronto!

INQ1 Pronto!

INQ2 Pronto!

INF Olhe, hoje é o casal mais amigo que está por essa zona. Amigos!

INQ1 Pois, pois, pois.

INF São muito amigos, pronto! São amigos. E se eu não e- E se não era eu? Se eu não o levava ao rego, não é? Olhe que às vezes, diz que o casamento e o rio que é por onde o guiam.

INQ1 Que é o quê?

INF O casamento e o rio que é por onde o guiam.

INQ1 Ah, pois.

INF Sabe? O que é o casamento e o rio coiso Se eu não não me punha [pausa] ao lado dela, pois o que seria dela?!

INQ1 Pois claro.

INQ2 Claro.

INF E ele, se for fosse preciso, arranjava um estupor [pausa] que não prestava!

INQ1 Claro.

INF E aquela mulher é boa.

INQ2 E ela é boa.

INF Trabalhadeira, trabalhadeira que não tenho que dizer dela, senão bem

INQ1 É verdade.

INF E trabalhadeira e amiga do dos sogros, e pronto! E vai-o sendo, até passar os dias da vida.

INQ1 Que sorte! Pois, foi bom!

INQ2 Sim senhor.

INQ1 Olhe que bom!

INF Bem, eu tenho que ir botar a água

INQ2 Agora, tem que ir.

INQ1 Vai botar a água?

INF E as senhoras sa- E as senhoras sabem que eu tenho que ir embora eu que ainda demoro!

INQ1 Vai botar a água?

INF Vou. Vou abrir a água para ali para cima.


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