INF Parte das vezes não me quero lembrar do meu tempo. Como eu me vejo hoje?!… Não senhora! Não me quero lembrar do meu tempo sequer ao menos. E ela era rica! Mas dançava comigo aquilo eu sei lá! Parece que ela que me tinha por família. Eu também dançava bem! Pois, eu sabia também divertir-me. E ela também. Um ano, lá no patrão onde eu estava, fomos ter uma uma pândega, assim um [vocalização] lá para uma herdade que o meu patrão tinha arrendada, aonde foi ela e [vocalização] e foram mais outras, e foram as filhas do meu patrão. E depois chegou-se à horas de comer, e [vocalização] e elas quiseram ir mais eu – que estava um cabanão de mato ao lado do monte –, quiseram ir [pausa] para aquele cabanão, não sei se sabem o que é?
INQ1 Eu não.
INF É uma alpendorada de mato.
INQ2 Rhum.
INF Pois. Quiseram ir para além, para estarem à vontade mais eu. Cantávamos e conversávamos e isto e aquilo. E depois por força que eu que me havia de embebedar. "Eu não me embebedo, que eu logo tenho que levar a parelha". Era ao pé da caseta de São Leonardo, além de Mourão para lá [pausa] é que era.
INQ1 Ah!
INF Tínhamos que vir pelos Monturinhos.
INQ1 Pois.
INF "Eu não" Digo: "Eu não bebo mais vinho porque eu depois não sou capaz de levar a parelha". "Mas há-de beber, e há-de beber, e há-de beber". "Não bebo, não bebo". "Há-de beber". "Não bebo. Não bebo mais". As minhas patroas foram dizer ao pai: "Pai, o Hermes não quer beber mais vinho. Sabe porquê? Porque não se quer embebedar por mor da parelha". "Diz lá que beba à vontade". Mas eu, mesmo assim, não me convenci. Não senhor! E tornaram lá a ir outra vez. "Digam lá que beba à vontade que não tenha lá receio". Tanta vez lá foram que ele foi lá a dizer-me.