INF É um casaleiro, que chama-se um casaleiro, que está lá a morar e a amanhar. É o casaleiro.
INQ1 Rhum-rhum.
INF Pronto, esse não tem…
INQ1 Mas esse não tem pessoas a trabalhar depois? É ele que faz tudo?
INF Não senhor, não tem. Se ele quiser faz sozinho e se quiser fala a homens. Mesmo que fale a homens, ele é sempre o casaleiro à mesma. Não Não é caseiro de ninguém.
INQ1 Rhum-rhum. Pois.
INF É ele é que manda. Ele é que é o co- é o patrão próprio. Trabalha por sua conta própria.
INQ2 Pronto. Pronto.
INQ1 Pois.
INQ2 A nossa dúvida está só em perceber é se, se casaleiro e caseiro era a mesma coisa.
INF Não, não.
INQ2 Mas não é.
INQ1 Não é.
INF Não senhora! Caseiro é, por exemplos: eu agora tenho uma quinta [pausa] e vou ter consigo – vá lá, isto é um supor –,
INQ2 Sim, sim, sim.
INQ1 Pois.
INF vou ter consigo: "Queres ser meu caseiro? Queres ir para lá morar? Dou-te xis por mês e vais mandar no meu trabalho, recebes as minhas ordens para dares ordens aos outros"…
INQ2 Sim.
INF E depois andam lá dez, quinze homens, você é que dá ordens àquilo tudo. Faz de conta que ele que é como que seja o dono. Em não estando o patrão, é o dono.
INQ1 Pois.
INF Põe e dispõe. Esse é que é um caseiro.
INQ1 Pois.
INF Está lá a morar dentro e manda e fecha portões e abre portões e [vocalização] é o faz de conta que representa o dono.
INQ1 Rhum-rhum.
INQ2 Sim senhor. E o casaleiro não.
INF E o casaleiro não tem nada. Esse não tem nada ordens a dar a ninguém. Só tem que chegar ao fim do ano e pagar a renda ao [vocalização] ao senhorio. Pronto, é um xis de renda: dois, três, quatro, cinco, dez, vinte contos, chega ao fim do ano – não pelo São Martinho, que é quando se paga essas rendas das fazendas é pelo São Martinho –
INQ1 São Martinho.
INF vai-se pagar as rendas ao senhorio, pronto. Onde o senhorio só tem a arreceber o dinheiro e passar o recibo e mais nada.