INQ1 Olhe, quando se faz um, um negócio qualquer, quando se vende uma vaca, quando, enfim, se faz um negócio qualquer com outra pessoa, é costume depois um pagar ao outro um copo para, para fechar o contrato?
INF Não. Isso paga se pagar. Eu vendi tanta vaca!
INQ1 Um copo ou outra coisa qualquer.
INF Venho do negócio das vacas. Também comprei e vendia,
INQ1 Quem diz vacas, diz outra coisa qualquer.
INF mesmo nas próprias feiras. E eu nunca ia beber copos nenhuns de ninguém.
INQ1 Não?
INF Não. Não senhora.
INQ1 Não.
INF Às vezes é que há um intermediário que chegou a fazer isso. Eu cheguei a fazer isso. [vocalização] Estava-se aí a negociar com aquele senhor, e eu como sou também percebo de negócios, aquele senhor também tem … Você tem pouca prática de comprar, tem medo de estar a oferecer muito dinheiro, começa-se a chegar a mim: "Qual é o valor daquela rês"? – e tal. E [vocalização] diz essa pessoa assim: "Ah, eu não me importo de lhe dar um conto de réis ou quinhentos escudos e você ajuda-me a comprar". E eu então faço tudo por tudo para comprar o mais barato possível para ti.
INQ1 Pois.
INQ2 Rhum-rhum.
INF Porque lhe estou já… Já só estou a ser um intermediário.
INQ1 Um intermediário. Pois é.
INF Já você já está-me a dar dinheiro de ganho.
INQ1 Pois, pois.
INF Para não se- Com medo de ser enganada!
INQ1 Rhum-rhum.
INF E eu se tiver consciência, não não a engano. Estou a ganhar dinheiro a você. Mas os maiores ciganos de negociantes
INQ1 São esses.
INF são tão práticos que já lhe vai ganhar um conto de réis a você e vai ganhar outro conto ao outro.
INQ2 Ao outro.
INF É que faz parede para si e faz parede para o outro.
INQ1 Exactamente.
INF Fa- Está a fazer parede para os dois lados. Isto a vida…
INQ1 É horrível!
INF A vida, isto a vida é tão horrível! Quem não tiver olho não é rei em Portugal, seja naquilo que for.
INQ1 Ai, meu Deus!
INF É, é.