INQ E que tipos de chouriças é que fazia?
INF Fazíamos de sangue. Chamávamos chouriças de sangue, chouriças de couros e chouriças de farinha e chouriças de carne.
INQ Ah! Uma grande variedade!
INF Era. Ai, uma variedade! Ai, meu Deus! Eu se me visse… A gente podia comer tudo tão bem, agora tudo faz mal. Ai, meu Deus! Mas também ele as coisas eram outras, não sei. A gente ia então àquelas [pausa] tiras que era para derreter, as tais tiras que a gente cortava…
INQ Sim.
INF Tinha de as esfolar, não é? Esfolava, tirava-lhe couro. Ficavam só para derreter. E aqueles couros, a gente não tirava não os esfolava assim muito fininhos. Partíamos com a faca a ficar um couro com um bocadinho de, de, de
INQ De carne.
INF de carne – com aquela carne gorda, um bocadinho. Partia-se toda aos quadradinhos miudinhos. Toda a gente a partir couros! Era uma penitência! A gente fazia aquilo muito miudinho, os couros muito aos quadradinhos muito miudinhos. [pausa] E fazíamos depois: deitávamos o sal e vinho e [vocalização] o sangue de porco. O sangue e [vocalização] e um bocadinho de vi- de vinho e, e elas e um pisquinho de farinha, de nada, ali, e um bocadinho de gordo também para para elas não ficarem muito secas.
INQ Pois.
INF Pronto! Faziam-se ali as chouriças – deixava-se um pedaço sem encher –, da própria tripa.
INQ Pois.
INF Que agora é tudo de plástico até.
INQ Mas antes era mesmo…
INF E a gente fazia assim e depois dava-lhe metia numa panela de água a ferver e pendurava-as um
INQ Pois.
INF um dia ao fumo, com bastante fumo ali no lar.