INQ A erisípela ou erisipela?
INF1 Ah, a erisipela. Oh, já a tive eu.
INF2 Há quem chame… Há quem lhe dê esse nome de erisipela.
INF3 E sarampo.
INF1 A erisipela. Lembra-lhe que eu estive a morrer com ela?
INF3 É. Erisípela.
INF1 O meu marido não estava cá.
INF3 É erisípela.
INF1 E eu davam-me aquelas dores de… Eu vim-me embora mais cedo e depois davam-me aquelas dores muito grandes de cabeça, aquelas dores de cabeça muito grandes. E eu tinha lá álcool, mas álcool fino. Que eu tenho um filho que trabalha lá para assim donde o há e o patrão, como sabe que eu sofro muito do reumático, de vez em quando manda-me dar um bocado. E eu lembrei-me: "Bem, vou molhar uns pachos de álcool e vou pôr"… Tinha aqui um calor e umas dores! Um calor! Foi quando morreu o meu filho, andava assim meia doida. E depois, peguei no pacho do álcool e pu-lo aqui. E fiquei assim fresquinha. Fiquei fresquinha, fiquei! Parece que fiquei melhorzinha. Estava sozinha. Dormia lá sozinha em casa e tudo. [pausa] Mas de manhã à no-, mesmo nessa noite, [vocalização] a minha filha… Foi lá uma sobrinha minha – chamam-na Estrela – e disse-me assim: "Ó tia! A tia amanhã podia-me ir cozinhar, que trago lá homens [vocalização] a fazer a ceifa, podia-me para lá ir cozinhar". Que eu, não sou para me gabar mas sei assim muito de cozinhados. "Podia-me para lá ir cozinhar e eu ia acartar o comer, que ainda é bastante longe. É lá para o Perdigão, ainda é bastante longe. E eu ia acartar o comer e a tia fazia-mo". "Está bem. Eu vou". Com aquele calor de andar de cima do f- do forno, lá na lareira, de cima daquele fogo, com aquele calor e com o álcool que tinha posto, apanhei um erisipelão bravo. Olhe, pôs-se-me a cabeça parecia a cabeça dum animal. Grande! E E tudo cheio de de borbulhas. Levantava-me assim a pele para cima, aquelas borbulhas. Levantava a… Levantou-me a pelezinha da cabeça toda, toda, toda. Depois eu fugi para a rua doida, de noite, com a febre. Estava sozinha, andava na rua sozinha. Depois lá me encontrou um [vocalização]: "Então ó tia Ercília, que anda aqui a fazer"? "Ai, deixa-me, deixa-me que eu estou tão doente! Estou tão doente, deixa-me! Ai, que estou tão doente"! "Vamos lá para casa. Então o que é que tem"? "Estou tão doente"! Ele olhou para mim, viu-me assim muito encarnada e viu-me assim malzinha e foram-me lá levar a casa. E eu lá me tornei a deitar. Lavei-me, assim com a febre, e lavei-me, lá fiquei até de manhã. De manhã a minha família lá deu conta, lá houve pessoas que deram conta, levaram-me ao médico. Lá fui ao médico, o médico lá me receitou então uns remédios – umas pomadas. Metia uma assim por baixo do cabelo. Ele até me ti- até tinha dito que me cortassem o cabelo. Mas eu tinha um cabelão muito grande nesse tempo. Caiu-me agora há pouco tempo. E E depois, elas tiveram pena, metiam-me assim com, com uma com uma coisinha que o médico lhe receitou, metiam-me assim os remédios. Punham-me os remédios mas estive ceguinha, nem abria os olhos, nem nada. Estive malzinha, muito malzinha. Até mandaram vir este. Que viesse. Eu até lhe disse: "Nem cá venhas. Olha que eu estou muito feia"! Pois eu parecia… Nem sei Nem sei quem é que eu parecia! É o erisipelão. Olhe que isso é muito mau também. É uma doença que a senhora não calcula. Nem aos cães da rua chegue! Eu tive uma desgraça… Foi uma desgraça para mim aquela doença! Ainda fiquei muito cheia de fístulas. Agora já tenho aqui só já uns bocadinhos. Mas andei muito tempo cheia de fístulas, daquela daquelas empolas, rebentou aquilo tudo, aquele pus. Depois foi então lá uma rapariguinha que chamam-na a [vocalização] Etelvina – que é [vocalização] solteirona, coitadinha –, e [vocalização] foi-me atalhar com o azeite e a folha da oliveira. E ela lá sabe aquelas coisinhas. Lá me foi abatendo, lá foi abatendo…
INQ A senhora não sabe?
INF1 Eu não sei. Não sei. A Etelvina sabe muito bem. [pausa] Mas eu isso não aprendi.