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GRJ41

Granjal, excerto 41

LocationGranjal (Sernancelhe, Viseu)
SubjectO vestuário
Informant(s) Ercília Elina Emanuel
SurveyALEPG
Survey year1978
Interviewer(s)Manuela Barros Ferreira
TranscriptionSandra Pereira
RevisionErnestina Carrilho
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMárcia Bolrinha
LemmatizationDiana Reis

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INF1 Olhe, eu [vocalização], a do meu casamento foi cor-de-vinho. Uma saia cor-de-vinho toda empregueada. Era. se usava naquele tempo empregueado.

INQ não tem essa roupa?

INF1 Oh, não, minha senhora. Era linda, não era? É, é A mim Olhe, quando foi eu digo-o diante dele é para que me não digam que eu que sou mentirosa , quando foi a primeira vez que o meu homem me levou à terra, [vocalização] juntou-se o povo todo que [vocalização] ficaram doidos comigo. Foi ou não foi? "Ai, o Manel" não dizem Emanuel. "Ai que ragariga o Emanuel arranjou! Ai que rapariga"! Ainda eu fui solteira, mais o meu pai e ele. Fomos [pausa] conhecer a família dele. E depois a minha saia do casamento foi cor-de-vinho, toda empregueadinha, toda, toda, em toda a volta empregueada, as pregas todas a abrirem. E uma blusinha aos ramos, de seda. E [vocalização] essas saias, era mesmo a varrer o chão. Não se viam os sapatos.

INF2 Pois não. Não me lembrou, porque havia de lhe trazer o meu retrato que tirei de solteira.

INF1 Pois tem, tem. Tem essa roupinha comprida tem.

INQ Ai, traga, traga.

INF3 Ai isso usava.

INF1 Pois tem.

INF3 E então esta, que luxava, luxava .

INF1 O- O sapatinho Olhe

INQ Ai era?

INF1 Era!

INF3 Oh! Era!

INF1 A minha mãe

INF3 A mãe trazia-a sempre que parecia um pombo.

INF1 Olhe, a rou- a minha mãe a minha mãe que Deus lhe perdoe usava naquele tempo umas saias de merino. Mas era merino mesmo, merino de .

INF2 Pois.

INF3 Pretinho fino, não era?

INF2 E quem ficou com ela?

INF1 A saia da minha mãe levou-a.

INF2 Ah!

INF1 Levou-a. Olhe, não era Era para as lavradeiras. alceavam os andores [pausa] nos carros de bois.

INF2 Pois, pois. Como aquela, uma

INF1 Para irem em cima à capela.

INF2 Uma vestimenta como essas que estão, como essas moças que estão.

INF1 Pois. Era assim.

INF2 Cheias de oiro.

INF1 Tudo a [vocalização], a com os lenços assim atados como elas levam acima.

INF2 Eram assim umas raparigas como aquelas .

INF1 E levavam Aquela saiinha da minha mãe chegou a ir para o Senhor dos Caminhos, não sei se a senhora sabe onde é. Nas Rãs?

INF2 Pois, pois, pois. E para a Senhora dos Remédios.

INF1 Vinham-nos buscar assim para fora E para a Senhora dos Remédios, e tudo. Levavam para alcearem nas moças. Estas moças bonitas que havia é que iam a chamar os bois, com uns lenços todos de franja eu até ainda tenho um , todos de franja e, e outro e outro xaile também de franja, e com aquelas saias e aqueles aventais, e com muito oiro!

INF2 Muito rodadas!

INF3

INF1 Com uma barra de veludo. Punham naquelas saias pretas uma barra de veludo preto. Levou a minha mãe para a cova. Era uma linda saia a da minha mãe.

INF2 Ai era!

INF3 Na Senhora dos Remédios é que a senhora via coisas antigas se fosse!

INF1 Muito ele custou!

INQ Aonde?

INF1 E chinelinha?

INF3 Na Senhora dos Remédios.

INF1 Amanhã é a Senhora dos Remédios.

INF3 é que a senhora Amanhã.

INF1 E [vocalização] Amanhã ainda ainda vão os ainda vão os andores assim a bois.

INF2 Pois ainda, pois ainda.

INF1 Ainda vão assim.

INF3 Puxados com cangas.

INF1 Puxados com os bois.

INF3 Com aquelas cangas. Tudo puxado a bois.

INF1 Ali é que as senhoras tiravam uns retratos bonitos, na procissão. Uma procissão rica!

INF3 Pois. Isso é coisa boa!

INF1 Ela leva tanta criança, tanta imagem, tanta imagem, tanta, tanta! Uns vestidos duma coisa, outros vestidos doutra. Aquilo é lindo!

INF3 Pois é bonita, com esses bois, as lavradeiras que vão carregadas de ouro, elas vão carregadas de ouro!

INF1 Aqueles, aqueles Aqueles andores dão volta à cidade. Aquilo é muito bonito!

INF2 Eu ainda fui duas vezes.

INF1 De lavradeira? Eu também ainda fui mais a minha Eusébia duas vezes.

INF2 Também ainda fui duas vezes.

INF1 Eu mais a minha Eusébia.

INF2 Mais Mais a Eva, a mãe da Evangelina.

INF1 A mãe E a Fábia. A Fábia é que quase sempre [pausa] é que ia, a Fábia.

INF2 Era, era. A Fábia também quase sempre ia.

INF1 Coitadinha, também está.

INF2

INF1 Mas antigamente era aquelas saiinhas rodadas Olhe que ainda não havia moda mais bonita!

INF2 Ai Jesus!

INF1 Não havia moda mais bonita! Uma comadre da minha mãe Um tio meu chamavam-no Eudóxio era muito [vocalização] Como esteve a contar ontem à noite o senhor Eneias de com aquele Estentor, indegava-os e ele era um um chamavam o Derrubadinho, o meu tio. Era muito lindo, alto! Um homenzarrão! E olhe que [vocalização] esse meu tio, esse meu tio o tio Eudóxio isso era era sempre o da frente. Sempre. Sempre o da frente. Mas olhe que uma tia minha que eu tinha, que era minha tia e minha madrinha, essa então foi tanta vez de lavradeira!

INF2 Ai, meu Deus!

INF1 Era linda! Era Era uma ra-! Havia muito boas raparigas!

INQ Olhe, e essa coisa que se usava na frente da saia?

INF1 É o avental.

INF2

INQ E, e como é que a senhora chama a esses brincos que traz hoje?

INF1 Isto é umas argolas. Chamamos isto umas argolas.

INF3 Argolas. Argolas era para prender os burros.

INF1 Mas eu não te prendi a ti.

INF3 Pois .

INF1 E tu és burro?


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