INF1 E no pão, olhe, governava quatro fanegas. A senhora sabe o que é uma fanega?
INF2 É quatro alqueires.
INF1 É a rasa quatro vezes cheia.
INQ A rasa quatro vezes cheia?
INF1 Governava quatro vezes. Veja lá. Quatro… Governava: quatro e quatro, oito; oito e quatro, doze; doze e quatro, dezasseis alqueires que eu governava por dia. [pausa] E noite. Assim me eu pus também. [pausa] Governava para levar para Moimenta, para levar para…
INF3 Chegavam eles com os plásticos…
INF1 Para, para
INF2 Para Aguiar.
INF1 Para Aguiar, para para aqui.
INF2 Para Trancoso.
INF1 E aqui então era [vocalização]… Bem, não tirava até ferver .
INF2 E até chegámos a levá-lo a Vila Nova de Paiva.
INF1 É verdade.
INF3 Andavam todas toda a noite com os fornos a arder.
INF1 Era, sim senhora. Toda a noite.
INF3 E era preciso não lhe dar pausa.
INF1 Era.
INF3 Quando algum alguém tirasse, já estava outro tanto pronto para entrar mais.
INF1 Era. Eu às vezes pedia vez para o para cozer, dizia assim: "Ó senhor… Ó Ó Eurípides, eu quero cozer hoje quatro vezes". "Então, entrega-te do forno", ali o Eurípides da Rês. Cozia lá quatro vezes. Quatro taleigas que eu lá cozia! Duas de trigo e duas de centeio. [pausa] A gente governava pão de trigo que era assim! Ai!
INF3 Também antigamente governava-se…
INF1 Quem diria! Com estes pulsos!
INQ Agora já, agora já não dá resultado, é?
INF1 Era tudo amassado.
INF2 Isto agora é tudo amassado com máquinas.
INF1 Agora é tudo…
INF2 Tudo a máquinas.
INF1 Têm só padarias, padarias… Olhe, não presta o pão como era antigamente.
INF3 Ai, não. Não presta, não.
INF1 Não presta. A gente não lhe punha farinha [vocalização], fermento de fora.
INF3 Passa de hoje, o pão fica duro, já se não come.
INQ Ai é verdade! Já teria vindo da Lapa, o padeiro?
INF3 Não sei. Já viria o padeiro da Lapa?
INF1 Olhe, eu vi vir um padeiro. Não sei se era o Juvino.
INF2 Ele esteve cá já hoje.
INQ Ah!
INF3 Já? Então ele já trouxe.
INQ Que pena! Queria comprar pão.
INF2 Esteve cá já hoje.
INF1 Há cá pão, minha senhora.
INF3 Eu hei-de comprar. Também lhe comprava.
INF2 Ai, ele fica aí nas tabernas.
INF1 Há aí pão nas tabernas.
INF2 Ele deixa-o aí nas tabernas.
INF1 Se a senhora quiser, eu vou lá buscá-lo.
INQ Deixe. Olhe, alguma das senhora ainda cultiva o linho?
INF1 Agora cá já ninguém cultiva nenhum, minha senhora. Eram aqui… Cada fornada de linho que aí faziam que era um encanto! Agora ninguém tornou a semear um grãozinho. Ninguém tornou a semear um grãozinho de linhaça!
INF3 Agora já nem o algodão usam! É nylon.
INF1 Nylon.
INF3 Coisas feitas já .
INF1 É. Coisas que até prejudicam a gente. Olhe, eu em vestindo alguma coisa de nylon rente ao corpo já não paro.
INF3 O corpo não respira.
INQ Dona Ercília, mas sabe quanto é que custa agora o metro do linho?
INF1 Ai, minha senhora, suponho bem que quanto não há-de custar!
INQ O linho muito fininho?
INF1 Pois.
INQ Seiscentos e cinquenta escudos.
INF1 Veja lá. Eu tenho lá uma toalha, que ainda agora lavei, que ainda me escapou do fogo… Ainda me escapou do fogo, aquela toalha! Com uma franja grande de renda, que não não apanhou nada do de queimadura. É É para levar eu por cima de mim quando morrer. [pausa] Para ma botarem de cima.