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GRJ64

Granjal, excerto 64

LocationGranjal (Sernancelhe, Viseu)
SubjectO porco e a matança
Informant(s) Élia Ercília Emanuel
SurveyALEPG
Survey year1978
TranscriptionSandra Pereira
RevisionErnestina Carrilho
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMárcia Bolrinha
LemmatizationMárcia Bolrinha

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INF1 Mas olhe que quem matar um porquinho

INF2 É para dar aos filhos todos .

INF1 E aos netos.

INF2 Chouriças, moiras e .

INF1 É tudo. Nós não comemos nada, a modo de dizer. Olhe, mas

INF3 Olhe, ela não pode comer.

INF1 Mas, mas quem Mas quem

INF3 E eu também não.

INF1 Mas mesmo que seja pequenino

INF2 Eu também não posso comer.

INF1 Costuma-se dizer às vezes A minha avó que Deus lhe perdoe dizia assim [pausa] Ele, às vezes, eu dizia-lhe assim: "Nunca mais matais um porquinho! Ponde-vos a matar um porquinho"! Dizia-me ela para mim, a minha avó. E [vocalização]: "Olha que diz que quando o teu vizinho matar um porco, mata tu um tordo! Olha, conheceis a novidade de tudo"! E é verdade. Nem que seja pequenino, a gente conhece de tod- de tudo. E escusa de a gente estar a olhar para as mãos dos outros. E a gente nas feiras não sabe o que compra. E em casa sabe o que tem. [pausa] Pois é. Nós estávamos os aninhos todos a matar. Eu matava Todos os anos matava um para mim e outro para uma minha filha que tenho em Lisboa, para a minha Juvina. Ela este ano vai estranhar. Mas [vocalização] que o mande comprar à feira. Manda-o comprar. Ela a mim também mo pagava. Eu este ano não pude, olha, não posso.

INF3 Ela manda a massa e eu vou comprando e mato, pronto!

INF1 Ela manda o dinheiro e a gente mata-lho.

INF3 E mais nada.

INF1 Vai-lho comprar a Trancoso ou ali em Sernancelhe, ou assim, e mata-se-lhe.

INF2 Pois, eles sabem quem é.

INF1 Eles não podem fazer estas coisas. Não têm adonde fazer estas coisas, não Nem o sal de Não derrega.

INF3 Nem o sal aguenta a carne.

INF1 tu, o que faz a diferença às coisas.

INF3 O sal de Lisboa não derrega a carne.

INF1 Ó senhora dona Élia olhe que não derrega!

INF3 Eu vi aqui em Moimenta

INF1 E o nosso aqui derrega.

INF3 mais o meu cunhado Eusébio, levámos daqui quase um porco inteiro, tivemos que o botar quase todo fora.

INF1 Estragou-se tudo!

INF3 Estragou-se tudo!

INF1 Então foi como quando o meu irmão para foi

INF3 Salgámo-lo nos caixotes, viemos [vocalização], quando foi ao fim de pouco tempo estava tudo estragado.

INF1 Cheirava mal, muito mal.

INF3 Para botar fora.

INF1 Agora aqui é aqui também é o frio. O frio é que ajuda a a fazer os fumeiros bons.

INF3 E quem derrega o sal? É o tempo, a humidade.

INF1 É o tempo, a humidade.


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