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LUZ49

Vale Chaim de Baixo, excerto 49

LocationVale Chaim de Baixo (Odemira, Beja)
SubjectAs aves
Informant(s) Cirilo
SurveyALEPG
Survey year1995
Interviewer(s)Gabriela Vitorino Luísa Segura da Cruz
TranscriptionSandra Pereira
RevisionMaria Lobo
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMárcia Bolrinha
LemmatizationDiana Reis

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INQ1 É aqueles que vão pôr os, os ninhos, os, os ovos nos, nos sítios dos outros.

INQ2 Dos outros.

INF Ah! Não, não, não, não, não, não.

INQ1 Não é?

INF Aquilo não é uma folosa!

INQ1 Aquilo é uma folosa?

INF Pois tem que ser uma folosa. [vocalização]

INQ1 Este? Ou este?

INF Este.

INQ1 Este é uma folosa?

INF Vão pôr ao ninho dos outros, é o cuco.

INQ2 Pois.

INF O cuco é que vai pôr os ovos nos ninhos da folosa. E vai ,

INQ1 Exactamente.

INF mama-lhe os ovos da folosa e põe dos dele.

INQ1 Pronto.

INQ2 Ah!

INF É um pássaro tão desgraçado que nem sequer um ninho sabe fazer!

INQ1 Pois, exactamente. Exactamente.

INF Pois. Que é é o que está aqui.

INQ2 Pois.

INF Mas, a folosa não é destas. As folosas são são pretas.

INQ2 Ah!

INF São de gorro preto.

INQ2 Pois.

INQ1 É de gorro preto.

INF É de gorro preto. As folosas são de gorro preto.

INQ2 Pois.

INF Assim de cabecinha de preta!

INQ1 Pois.

INQ2 Pois, pois.

INF Pois. Que eu tenho encontrado At- Até uma vez, até encontrei um cuco Mas muitos anos. Era pequenito! Tinha os meus, talvez os meus quê?, os meus oito ou nove anos.

INQ1 Rhum-rhum.

INF Andava guardando um rebanhito de porcos e uma vez fui ao Vale da Serva que é na parte do Vale de Feixe e havia uma grande jardeira. [pausa] Jardeira que é: chama a gente uma jardeira é onde muita carqueija.

INQ2 Rhum-rhum.

INQ1 Ai, jardeira é um sítio com muita carqueija?

INF Com muita carqueija. Isso era uma jardeira. Pois. Assim, uma chapada muito grande, toda tapada em carqueija, era uma jardeira. E eu passei por , [pausa] parece-me não sei que é que eu fui para fazer, passei e onde encontrei um ninho de folosa com um cuco dentro.

INQ2 Rhum.

INQ1 Rhã!

INF E eu pego nesse dito cuco o cuco estava assim grandote , pego no desse dito cuco e trouxe-o. E tratava dele: dava-lhe gafanhotos [pausa] e tratava do bichinho. Mas nunca lhe fiz foi uma gaiola, se lhe tenho feito uma gaiola, ele em calhando,

INQ2 Ele ficava.

INF não sei se eu não o possuiria ainda hoje, mesmo se ele tivesse morrido de velho.

INQ2 Pois.

INF Pois. Mas eu depois tinha um casaco de cotim que era o que se usava, aqueles casacos de cotim , e guardava o cuco na algibeira do casaco. [pausa] Pois. Guardava o cuco na algibeira do casaco. E depois vinha com os porcos à frente, um sítio que lhe chamam a Eira do Machado, por afora, e aquilo havia muito seixo. E eu pegava nos seixos e jogava aquilo, ia faiscando muito fogo.

INQ1 Rhum-rhum.

INF Os seixos batiam uns nos outros e faiscavam fogo. E eu gostava de ver aquilo, não é? Pois. Os porcos à frente e eu atrás, faiscando os seixos, onde me salta o cuco da algibeira para o chão, e ponho-lhe o em cima, matei o cuco.

INQ2 Eh! Que tristeza!

INF Ai, que fiquei tanto Fiquei tão tão, tão, tão, tão aborrecido, tão descontente, com aquilo que ninguém queira saber!

INQ2 Pois.

INQ1 Claro.

INF Pois. E matei o bichinho, pronto! Acabou-se o cuco!

INQ1 Que pena!

INQ2 Que pena!

INF É verdade.


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