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LVR36

Lavre, excerto 36

LocationLavre (Montemor-o-Novo, Évora)
SubjectO moinho, a farinha e a panificação
Informant(s) Áurea Arciliano
SurveyALEPG
Survey year1995
Interviewer(s)Gabriela Vitorino Luísa Segura da Cruz
TranscriptionSandra Pereira
RevisionMaria Lobo
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationCatarina Magro
LemmatizationDiana Reis

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INQ1 Deixe-me ver se agora me faltou aqui perguntar alguma coisa. Ah! Onde é que amassava? Amassava dentro de quê?

INF1 Havia quem lhe [vocalização] chamasse selhas, em madeira. Mas a gente era em alguidares de barro, alguidares grandes de barro. No tempo das minhas avós eram assim. E no meu tempo!

INQ1 Sim senhora. Portanto, não faziam um pão, faziam vários?

INF1 Ai, que desse logo para uma semana.

INQ1 Quantos?

INF1 Uns doze pães de quilo ou [vocalização] Pois. E às vezes era pouco

INQ1 Olhe, e não faziam às vezes uns bolos, assim umas coisas mais pequeninas para os miúdos, quando?

INF1 Com toucinho cozido.

INF2 As meren-. Isso é as merendeiras. Isso era as merendeiras, .

INF1 Com toucinho cozido.

INF2 Fazia-se Fazia-se as merendeiras, não era, que era eram mais pequenas.

INF1 Pois. Guardava-se um bocado de massa: "Ó mãe, a gente quer um bolo"! "Está bem"! Guardava um bocado de massa, ia ao prato do toucinho Porque todos os dias se fazia cozido; ia-se guardando sempre toucinho não era? A gente andávamos não éramos cheios de [vocalização] aquelas coisas, não era, não comíamos E então, o toucinho era todo limpinho, tirava-se alguma folhinha de hortaliça que tivesse agarrado não era?

INQ1 Pois, pois.

INF1 no coiro, aquilo era tudo esmagado junto à massa.

INF2 Junta-se junto à massa.

INQ1 Ai, devia ser óptimo. Devia ser óptimo!

INF1 Pois. Depois ficava muito bom! E, às vezes, até com bocadinhos de linguiça cozida, mas isso a linguiça sobrava sempre menos. Sobrava mais era o toucinho. Era assim! E outras vezes: "Ó mãe, mas faça agora bolos doces". E então ela punha açúcar [pausa] e banha.

INQ1 Pois. Açúcar e banha?

INF1 E banha. Naquela massa [pausa] fazia bolos.

INQ2 Hum!

INQ1 Hum! Deve ser tão bom!

INF1 Metia às vezes um bocadinho de canela, também.

INQ1 Hum!

INQ2 Hum!

INF1 Ficavam muito bons aqueles aqueles bolinhos. [pausa]

INQ2 E quando, quando tapavam o pão para ele fintar, não faziam uma cruz a dizer alguma coisa?

INF1 Sim.

INF2 [vocalização] Bem, isso põe-se uns poucos de farelos por cima; punha-se, [pausa] para saber

INF1 Até Até por cima.

INF2 A minha avó A minha avó punha, ta-, tapa- tapava com uma toalha o pão, estava ali coisa, depois punha-lhe [pausa] os [vocalização] os farelos ali por cima, fazia uma cruz

INF1 Os farelos. Por cima.

INF2 E depois E depois quando o pão estava a fintar, até o farelo via-se, começava a arregoar. Via-se

INF1 O farelo a arr- a arregoar. Era, era. Era mesmo.

INF2 Via-se aquelas arregoas no farelo, diziam: "Olha, o pão está a fintar bem, e coisa"!

INQ2 E não dizia nada?

INQ1 E depois quando faziam a cruz não diziam nada? Palavras nenhumas?

INF1 "Deus te acrescente que é para muita gente"!


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