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MIG04

Ponta Garça, excerto 4

LocationPonta Garça (Vila Franca do Campo, Ponta Delgada)
SubjectA criação de gado
Informant(s) Amílcar Aristóbulo Amós
SurveyALEPG
Survey year1996
Interviewer(s)João Saramago Gabriela Vitorino
TranscriptionSandra Pereira
RevisionAna Maria Martins
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMélanie Pereira
LemmatizationDiana Reis

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INQ1 Olhe, agora outro assunto. Aqui, os homens que costumavam guardar o gado para cima, dava algum nome? Um pastor? O que era um pastor?

INF1 É [vocalização] um lavrador ou um [vocalização] .

INF2 É o cabreiro

INF1 Aqui, um pastor até é um cabreiro. É o de de ovelhas ou de cabras. [vocalização]

INF3 Nunca foi hábito aqui chamar pastor.

INF1 É O pastor é [vocalização]

INQ2 O lavrador é das ove-, das vacas.

INF1 É das ove- [pausa] O lavrador é de vacas [pausa] aqui, aqui.

INF3 De vacas.

INQ2 De ovelhas

INF1 De ovelhas é que é o pastor.

INQ2 É um pastor.

INF1 É um pastor.

INQ2 E de cabras?

INF1 E de cabras também é um pastor.

INQ2 Não chamavam cabreiro?

INF1 Cabreiro também. Chamavam-lhe cabreiro mas é daquele gado miúdo é pastor.

INF3 É cabreiro.

INQ2 E o cabreiro anda- O pastor andava com tudo, com ovelhas e cabras tudo junto, ou não?

INF1 Não senhora. Não senhora. Ovelhas à parte e [vocalização] cabras à parte.

INQ1 E quando tinham assim muito gado era costume levar um rapazinho para ajudá-lo a tomar conta do gado?

INF1 [vocalização] Quem tinha rapazinhos levava; quem tinha filhos seus levava, não é?

INQ2 Filhos seus.

INF1 Quem não Se não tinha, ele amanhavam-se sozinhos, não é?

INQ2 Mas, por exemplo, um, um lavrador aqui tem, tinha quantas vacas, por exemplo? Era possível ter até quantas vacas?

INF1 Ele no tempo, ora

INQ2 Noutro tempo?

INF1 No tempo, o que é que tinha? Era dez, doze vaquinhas e era se tive-

INF3 E era o máximo.

INF1 E era o máximo.

INQ2 Dez, doze?

INF2 E mais.

INF1 Dez, doze. Ora se o meu pai O meu pai sempre foi lavrador e os meus irmãos foram todos lavradores, e eu nunca conheci-lhe mais que dez, doze ove- vacas. E depois é que ele à maneira que a gente se foram casando é que foram se montando

INQ2 Pois.

INF1 E hoje está mais.

INQ2 E então para essas dez ou doze vacas chegava um lavrador, ? Um lavrador chegava para elas?

INF1 Então, um lavrador, aquilo dava-lhe para sustentar aquela casa de dez filhos.

INQ2 Não. Eu estava a dizer para se, para tomar conta? Para

INF1 Ah! Da terra? Não dava.

INF2 Andava o pastor

INQ2 Bastava um, um lavrador

INF1 Um . Um .

INQ2 Não precisava de ajudantes.

INF1 Desculpe, não senhora. Porque não havia leite a tirar duas vezes ao dia; era uma vez ao dia

INF2 E era muito.

INF1 Ele o gado não era tratado como é hoje em dia. ia para o pasto, ficava, se o tempo estava bom. Se não estava bom, vinha para os currales de Inverno.

INF2 Ali.

INF1 Eram Era uma boiada de Inverno, vinha tudo para os currales. Não Não ficava fora.

INQ2 E onde é que eram os currais?

INF1 Eram Eram aqui mesmo abaixo dessa casa. Era o curral do meu pai. Era ao ar livre. Era tapado com combros de cana em toda a volta, e a gente amarravam-nas pela cabeça, ali, e com uma manjedoura, e deitavam as comidas que faziam. Comidas, às vezes, [vocalização] inferiores a essas de hoje, porque eram, às vezes, comidas meias podres que se aproveitava porque não havia Provimi essas rações. Não havia nada disso.

INQ2 Mas, portanto, o curral era tapado

INF1 em volta mesmo.

INQ2 Em volta. Por cima

INF3 Às vezes, às vezes tinham

INF2 Havia alguns que tinham.

INF1 Alguns tinham a arribana; mas muito poucos.

INF3 Era poucos.

INF1 Muito poucos. E dizem

INQ2 E cada pessoa tinha o seu curral?

INF1 Cada pessoa! E usavam mais até um curral era para os bois de trabalho. Para as vacas, não.

INQ1 Mas essa arribana também servia para pôr o gado dentro, era?

INF1 Servia sim senhor. Tratavam o gado

INQ1 Em baixo?

INF2 Ele era, era.

INQ1 Não eram dois pisos?

INQ2 Dois

INF3 Não. É um piso !

INF1 É, é. Ele é: o animal está aqui, faziam um abrigo aqui por cima. E [vocalização] é um piso. Aqui nunca houve

INQ1 E tinha paredes à volta ou era o tecto?

INF1 Ele até ia ali coiso era rente a uma barreira, rente a um um combro de canas. faziam o seu amanho pa- para o gado estar ali bem.

INQ1 Bastava ter assim um tecto

INF1 Sim, sim. E muitos era ao ar livre.

INF2 O tecto era de palha.

INQ2 O tecto era de palha?

INF1 Eh, não havia [vocalização] Não, não era de palha; era uma coisa para amanhar .

INQ1 E esses lavradores quando iam assim, de Inverno, para cima, para o mato com, com,

INF1 Com o gado.

INQ1 com o gado É isso que eu lhe queria perguntar: bocadinho o senhor falou no gado. A que é que se chama gado aqui? É É todo?

INF1 É tudo. É os animais todos. Aquilo é tudo gado.

INF3 São as vacas.

INF1 As vacas, as cabras, ovelhas, isso é tudo gado, não é?

INQ1 Tudo gado.

INF1 Tudo gado. A gente trata isso tudo gado, não é?


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