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MIN19

Arcos de Valdevez, excerto 19

LocationArcos de Valdevez (Arcos de Valdevez, Viana do Castelo)
SubjectO moinho, a farinha e a panificação
Informant(s) Arlete Antipas
SurveyALEPG
Survey year1996
Interviewer(s)Manuela Barros Ferreira João Saramago
TranscriptionSandra Pereira
RevisionAna Maria Martins
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationCatarina Magro
LemmatizationDiana Reis

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INF1 Como é que faziam pa- para a broa?

INQ1 Sim.

INF1 Eu, a broa, fa- aquecia Punha a água a aquecer. [pausa] E depois media uma malga de sal. Se era uma rasa de, de de pão de milho [pausa] farinha media um, uma um punhado assim de sal [pausa] e botava dentro da água, temperada. E depois peneirava não é? toda peneirada. Mas ti- E [vocalização] peneirava a farinha primeiro, depois ia, peneirava a mistura. Se tinha farinha triga, misturava também. E depois fazia um buraco no meio da da farinha, na masseira eu tenho ali a masseira , fazia um buraco, deitava aquela água ali toda, ali dentro.

INF2 Não fazias buraco. Ele abrias Ele abria do lado.

INF1 [vocalização] Abria a farinha e fazia um buraquinho no meio da farinha. E depois de temperar ali ela temperadinha, depois amassava com as com as mãos. [pausa] Com as mãos amassava

INQ1 E aquele sítio onde punha a farinha, como é que lhe chamava?

INF1 Ele é a masseira. É a mas- Isso eu tenho. Eu ainda tenho a masseira não seja para lhe mostrar, que tenho. E depois de apunhado, amassava bem amassado, ficava um pão, um pão coma trigo, levezinho! Depois amassava bem amassado, punha ao cantinho da masseira numa parte , todo, botava-lhe um bocadinho de farinha por cima, fazia-lhe uma cruz, assim

INQ1 E dizia o quê?

INF1 Não dizia nada. Fazia-lhe uma cruzinha para ele levedar.

INF2 Não. Mas ele levava fermento.

INF1 ?

INF2 Tinha Ele tinha que levar fermento.

INF1 Tinha que primeiro fazer fermento não é? que levava fermento como leva o trigo na vila. Fazia o fermento primeiro, [pausa] e depois é que lhe botava fermento naquela massa toda.

INQ1 Não tinha Não ficava o fermento duma

INF1 Dumas vezes para as outras.

INF2 Dumas vezes para as outras, é.

INF1 Ao fim de de amassar, deixava o [pausa] a tigelinha com ele, [pausa] para outra vez fazer.

INQ1 Sim.

INF1 Eu cozia duas e três vezes por semana.

INQ1 , e depois? Ainda não está

INF1 E depois então

INQ1 Primeiro ele ficava ali com aquela cruzinha

INF1 Ficava ali com aquela cruzinha até [pausa] abrir todo. Abria aqueles buraquinhos a levedar, não é? Nós depois de ele lêvedo Quer-se dizer, an- antes disso, de ele estar a levedar, acendia o forno. E depois ele dele lêvedo, todo abertinho, pela masseira assim, todo abertinho, pronto, acen- aquecia o forno, varria tudo para fora. Tirava a lenha dele quente, do forno, via, e pron- [vocalização] ajeitava, ele bem varrido, tinha uma cunca ainda tenho ali a cunca , e padejava.

INF2 A farinha, conforme Botava farinha dentro da cunca.

sINF1 Padejava a broa [pausa] Botava farinha dentro da cunca. Depois de padeja- Botava a massa assim dentro, e padejava, fazia a broa. Tinha ali a , metia assim pelo ladinho fora, pumba. Pumba, outra broa [pausa] e cozia. Dava duas, três horas [pausa] ao pão, dentro do forno.

INQ2 Duas ou três horas?

INF1 Duas ou três horas, consoante estivesse quente Se estivesse muito quente, dava-lhe menos horas. Se estivesse mais mais esperto, menos. Portanto, a gente pela porta Ap- [vocalização] Encostava assim a mão à padroeira do forno

INQ2 À?

INF1 À padoeira, do lado que tem

INF2 Padieira!

INF1 Padieira. A gente enquanto encostava: "Alto! O forno hoje está bem quente! Quer menos horas"! E pronto! Duas ou três horas ou duas e meia. Portanto, fazia a broa muito boa.

INQ1 Mas quando estava a pôr, a fazer aquelas broinhas, para dar-lhes aquele feitio, dizia que estava a quê, com a cunca?

INF1 A padejar.

INF2 A padejar.

INF1 Sim, que a gente botava dentro da cunca e [vocalização]

INQ2 Mas se fosse o de centeio, também era padejar?

INF1 Era igual, ele era igual, era igual.

INF2 Igual, igual. Era igual.

INF1 Era, sim senhora.

INQ2 E de trigo? Chegou a cozer de trigo?

INF1 No de trigo nunca cozi. De [vocalização]

INQ2 Nunca cozeu.

INF1 Tenho um meu irmão que vinha aqui de França que esse era foi padeiro em Lisboa, era o mais novo e foi padeiro em Lisboa e quando vinha no Verão, vinha sempre cozer aqui uma fornada de centeio. Ai, ficava ali um!

INF2 Trigo!

INF1 Tri- De centeio!

INF2 Trigo!

INF1 De Misturado com centeio!

INF2 Mist- Com centeio, sim senhora.

INF1 Sim. Misturava trigo [adjetivo] com centeio. E fazia ali cada broinha! Também assim broas [pausa] de quatro quilos, três quilos, dois quilos, consoante Bem, fazia

INQ1 Aqui, as pessoas, todas as pessoas tinham forno na casa?

INF1 Ti- Tinham, tinham.

INF2 Aqui dantes tinha tudo.

INF1 Tudo, tudo! Antigos tinha tudo pão! Tudo cozia broa, que o trigo, minha senhora, era um trigo que eu Tenho setenta e quatro anos, nós comíamos um triguinho por, por [vocalização], por, sei , por festas.

INF2 Nas feiras.

INF1 Nem na- Às vezes, a minha mãe [vocalização] nem nas feiras me dava. E eu tinha aqui os meus filhos pequeninos e, às vezes, trazia um trigo que eram três por dez tostões e chegava aqui dava um cachinho poucochinho a cada um. Era broa é que a gente fazia!


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