INF Chama-se buzinos. [pausa] Faz o som. Nós à noite estamos em casa, pelo toque sabemos o andamento que eles trazem,
INQ1 Portanto, o senhor consegue ouvir, em casa?
INF com o toque, com com o toque da música em minha casa.
INQ2 E os buzinos são sempre de barro?
INF [vocalização] Sim, são de barro e de cana também. Sim.
INQ2 De cana?
INF Sim. [pausa] Mas tem poucos…
INQ1 Os de barro…
INF Tem poucochinhos de barro agora. Quando ele tem assim a média de cinquenta para cima, isso é que faz uma música muito forte.
INQ2 Claro. Deve ser lindo, não é?
INF Pois é.
INQ1 Deve ser muito bonito!
INF [vocalização] Sim senhor.
INQ1 E aqui no moinho dá uma parte a esta, aqui onde tem as mós e depois a outra lá de baixo ou não tem nome nenhum?
INF Aqui dá o solho, o solho do moinho.
INQ1 É aquilo que se separa lá de baixo?
INF É sim senhor.
INQ1 Sim senhor. E, aqui o que é que havia mais, era desses moinhos de pedra ou assim daqueles de madeira?…
INF No meu tempo havia mais de madeira e noutros tempos.
INQ1 Rhum-rhum.
INF Mas depois a coisa foi modificando, modificando e começaram a passar a fazer em pedra.
INQ1 Rhum-rhum.
INF Isto é muito antigo.
INQ1 … Pois.
INF Isto é muito antigo, senhor.
INQ1 E por aqui o senhor é o único que mói, não é?
INF Sim, sou eu só agora é que estou a moer. Num tempo, isto era tudo de família. Mas a vida modificou e isto também não é rico e depois pararam. Parte deles estão abandonados.
INQ1 Sim senhor.
INF Agora só eu é que estou a funcionar ainda.
INQ2 Mas estes do lado também são seus?
INF Não são. Eram de família. Um é dum cunhado e outro era do meu pai, mas vendeu-o já há uns anos para a comissão de turismo de Leiria.
INQ1 Rhum-rhum.
INF Sim, sim. Pertence à comissão de turismo.
INQ2 Pois.
INF Aquele mais caiadinho. Mas não funciona.
INQ2 Mas não funciona! Eles não o puseram a funcionar!
INF Não. Ele não o puseram a funcionar. Compraram e aquilo abandonou-se e está assim.
INQ2 Pois é!
INQ1 Eu queria-lhe perguntar era: dava algum nome à mó que era para moer o trigo?
INF É a mó alveira, que é aquela que está desmontada.
INQ1 E as outras eram as mós de?…
INF Estas [vocalização] são as mós de moer o milho. Se nós pusermos trigo nestas mós, o pão fica escuro; e se puser trigo na o mesmo trigo naquela mó, já fica branquinho. A mó é diferente. Chama-se Chama a gente aquela mó a pedra alveira.
INQ1 A pedra alveira. Que é o tipo de pedra?
INF Isso. Tipo pedra lioz, ou espécie de pedra lioz.
INQ1 Rhum-rhum. E então e todas vinham de Poiares?
INF Não, não.
INQ1 Não?
INF Aquelas vêm das grutas de Santo António. E estas vêm de Vila Nova de Poiares. É uma espécie dum granito muito rijo.
INQ1 Rhum-rhum.
INF Esta Esta é encarnadinha, é da cor de cravo, e o poiso é branco. E esta é branca e o poiso já é encarnado. É do banco das mós que ele lhe tiram, naqueles tempos, não é?
INQ1 Pois. E normalmente uma mó dessas dá-lhe para quantos anos?
INF Isso dura muito! Esta mó anda aqui a moer já desde o ano de 1925.
INQ2 Tchiii!
INQ1 1925, imagine!
INF Isso já não acaba, isso dura-me o resto…
INQ1 Então o senhor ainda não foi comprar nenhuma lá …
INF Nada. Absolutamente nada. Estão aqui mós para quem quiser vir! Quem
INQ1 Quem faz as mós não tem bom negócio!
INF Não tem bom negócio! Isto dura muito, senhor! Dura muito!
INQ1 Olhe, já agora, se não se importa, o seu nome?
INF Celestino.
INQ1 E é aqui da?…
INF Sou aqui mesmo da da povoação, desta povoaçãozinha.
INQ1 Como é que se chama este local aqui?
INF Aqui chama-se os Moinhos da Fazarga.
INQ1 Fazarga?
INF Fazarga. Tem Tem este nome por toda a parte, sei lá, por toda a parte do mundo quase.
INQ1 É?
INF É, os Moinhos da Fazarga.
INQ2 Portanto, a Moita Redonda não é aqui?
INF A Moita Redonda é aquela povoaçãozinha ali.
INQ2 Que é onde o senhor vive?
INF Sim, eu vivo já aqui em baixinho, aqui perto. Mas eu fui nascido e criado nesta povoação à frente, chamado Loureira.
INQ2 Ah! A gente passa por lá.
INQ1 E o senhor sempre morou, sempre viveu aqui? Trabalhou aqui?
INF Sempre vivi aqui com os moinhos, já do tempo dos meus pais e de meus avós até, que os meus bisavós até já foram moleiros. Isso é uma tradição muito antiga que já vem de longe! Por isso é que nós vamos sempre mantendo.
INQ1 Claro.
INF Vamos sempre mantendo, com certeza.
INQ1 E aqui sempre foi tudo moinho de vento? De água nunca houve? É só lá para baixo…
INF Tudo moinhos de vento. De água aqui não não há. Só moinhos de vento, pois é.
INQ2 Olhe, o milho é sempre milho branco ou também?…
INF Sim, também há amarelo. Também Também moemos amarelo. Tenho lá amarelo em casa, mas em geral trabalhamos mais com o milho branco que amarelo.
INQ2 Pois.
INF Depende das áreas, das zonas.
INQ2 Pois, pois, pois.
INQ1 E a sua idade?
INF Sessenta e dois anos.
INQ2 Ainda é novo!
INQ1 E como, como é que é do milho: as pessoas vêm trazer ou o senhor é que vai buscar?
INF Nós vamos buscar e levar. Mas geralmente também vem muita gente buscar, pois vêm trazer e depois levam. Mas, geralmente, nós temos uns dias marcados para dar aquela volta. Num tempo andávamos com o gado mular, carroças, hoje já é um tractorzinho. Vamos dar aquelas voltas. [vocalização] Tal dia vamos para a tal povoação, levamos uma carrada, pois trazemos outra de cereal; tal dia é para outra parte… E outras pessoas também aqui vêm: trazem um saco de milho, querem levar logo a farinha, a gente tem farinha, levam logo. Depois tiramos um desconto para nós. É um tanto da maquia –
INQ2 Qual é?
INF chamamos nós. Por exemplo, cada cada dez quilos que que nos mandam, a gente tira dois e meio para nós.
INQ2 Chama-se como?
INF A maquia. [vocalização] Ele dantes tirávamos um quilo, depois passou a dois quilos, e agora então, este ano entrou – como a vida também está tudo muito caro, mas nós também não queremos [pausa] deixar o cliente sem nada –,
INQ2 Claro.
INF estamos então a tirar [vocalização] dois quilos e meio por se- por dez. Vêm dez quilos, nós mandamos sete e meio de farinha.
INQ1 Pois. E que nome é que se dava àqueles sacos de farinha que se levava ou que se iam buscar?…
INF Os Os taleigos. Taleigos. Um é grande, outro é pequeno, outro é mais pequeno, é vários… Tanto que aí em baixo tenho aí taleiguinhos pequenos e grandes.
INQ2 Pois.
INQ1 E, e antes, quando fazia a medida, fazia ao litro ou fazia ao alqueire?
INF É ao quilo. Tudo ao quilo.
INQ1 Tudo ao quilo?
INF Tudo ao quilo. Levamos o taleiguinho à balança, a balança o que marcar nós sabemos fazer o desconto, tiramos o desconto para nós, isso toca a andar. Mas antigamente, os meus pais era tudo à maquia. Era uma medidazinha que tinham de propósito ao pé da mó e um saco. E aquilo era a medida. Acaculavam Ele calculavam o alqueire, tirava-se aquela medida, para fora, da maquia.
INQ1 Portanto, calculava-se o alqueire e tirava-se o?…
INF Isso.
INQ1 E aquela, e aquela medida tinha algum nome?
INF Aquela medida tinha a medida de um litro, de um litro e meio, dois litros, assim. Tanto que ainda temos essas medidas mas não usamos já.
INQ2 Pois.
INF Não usamos.
INQ1 É tudo agora ao quilo.
INF Tudo ao quilo.