PAL36

Alte, excerto 36

LocalidadeAlte (Loulé, Faro)
AssuntoO lenhador e o forno de carvão
Informante(s) Acilino Acidino

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INQ Como é que?

INF1 carvão de vento e carvão [vocalização] tapado na da terra, está a perceber?

INQ Pois.

INF1 O carvão de vento este homem não sabe explicar [pausa] ; esse sabe, não quer é dizer o carvão de vento é trabalhoso.

INQ ontem explicou também.

INF2 Eu expliquei isso ontem, homem. Eu expliquei isso ontem. Não quero explicar aquilo que se expli- explicou ontem, porque a gente temos que ir [pausa] fazer outra coisa.

INQ Explicou, sim senhor. Olhe, mas diga-me uma coisa.

INF1 Certo. Certo. Como é que você explicou o tal carvão de vento?

INF2 [vocalização] Como é que se explicou? É do de urze.

INF1 De urze, de urze.

INF2 É o de urze. E qual é o carvão bom de urze?

INF1 Fazia-se Você não sabe explicar.

INF2 Qual é o carvão bom de urze? Eu não sei explicar e sei qual é o que é é bom e qual é que é o ruim!

INF1 Então, como é que isso é feito?

INF2 Não sei, . Em Quando me ele indo ali à forja, eu digo logo eu digo logo o que é

INF1 [vocalização] Ora Eu sou uma criança, com quarenta e dois anos e havia de eu não saber isso! Uma cova no chão, cepas de urze, [pausa] toca , limpa-se aquelas [vocalização] urzes, as cepas para o moitão, fogo.

INF2 E não E não vai mais nada?

INF1 Vai [vocalização].

INF2 Não tem que levar uma machadada em cada cepa? Não leva um [vocalização], uma uma peta?

INF1 Isso é que fazem falta; que não fazem falta não vai.

INF2 Para quê? Para cozer? Para cozer, para arder?

INF1 Havia Havia um alferce, levava um alferce, com um olho do feitio de machada.

INF2 A peta.

INF1 Está a perceber?

INF2 A peta.

INF1 Espere , patrão [vocalização].

INF2 Ora, bem! Ora, !

INF1 Espere , que eu sei o que estou dizendo.

INF2 Ah, tu sabes e os outros não sabem?!

INF1 Espere . Faz-se aquela cova, depois , ali bem aquilo bem ajeitadinho, aquilo [vocalização] vão ardendo e depois ainda vão batendo nelas, vão batendo nas cepas. Estão ardendo e vão batendo nelas.

INF2 Não toques é aqui! E depois é espalhado que é para [vocalização] [pausa] Que é para quando estar

INF1 Vão batendo, vão batendo, vão batendo e depois quando estar muito em brasa Depois aquilo é uma vara, fazem uma vara [pausa] até da urze uma vara, chamam chamam-lhe uma vara, até que é quase de varejar, de se varejar alfarrobas ou azeitonas ou uma coisa qualquer, ou amêndoas, isso não conta, ou figos, uma coisa qualquer. Depois, essa vara, quando aquilo estar mais a- bem batido, joga-se para ali umas pás de terra e, depois, vai-se desmanchando, pouco a pouco. Quer dizer, depois também vamos [vocalização] umas camadinhas de terra. Quando ser sendo apagado com terra, é uma categoria de carvão. Quando ser água, ali não presta.

INQ Pois.

INF1 É mais fraco. É co- E temos problemas, está a perceber?

INQ Sim senhor. Olhe e o, essa, o, esse,

INF1 Que nisso, trabalhei eu.

INQ essa carvoeira que se arma, deixa-se algum buraco, não?

INF2 Deixa Deixa um maço, deixa um ouvido, deixa uma boca para dar fogo e deixa conforme [pausa] conforme o que está debaixo da terra.

INF1 Sim. Dois ou três ouvidos se fazerem falta, conforme a conforme a madeira que está debaixo da terra.

INQ Olhe, então digam, um de cada vez, a boca onde é que é que se deixa?

INF2 A um lado.

INQ E os ouvidos?

INF2 Deixa também dos lados.

INQ Mas é diferente, a boca é diferente dos ouvidos, então?

INF2 Pois é.

INQ Como é que?

INF2 A boca faz [vocalização] uma espécie de quadrado . [pausa]

INQ Pois.

INF2 E os ouvidos é [vocalização] um buraquito redondo que eles deixam para para resfolgar.

INQ Sim senhor.

INF2 Para Senão não, não não ardia, não cozia o carvão.

INQ Então e quando, quando o carvão está feito, quando os senhores sabem que o carvão está feito, como é que?

INF2 Quando é Tapam aquilo tudo e, depois, batem e sabem se está ou não está cozido. Os homens [pausa] [pausa] batem e sabem se está ou não está cozido.

INF1 Batem.

INQ Sim senhor. E, portanto, quando está cozido tem que se?

INF2 Depois é b- esborralhado Depois é que é esborralhado.

INF1 Mas batem, ou quê?

INF2 ? Então não batem?

INF1 Ele acabou de arder, deixou de fumar, meu grande amigo.

INF2 Pois Depois isso tem que o tapar .

INF1 Onde é que se é o que a senhora está a falar onde é que se a boca, depois deixou-lhe um ouvido. Conforme a maneira de ele ser carvoeiro pequeno, também convém dois ou três ouvidos ao lado.

INF2 Pois.

INF1 Na cabeça da carv- da carvoeira, está a perceber? Chama-se uma carvoeira. Na cabeça da carvoeira. Deixou-lhe aqui, quer dizer, com licença É Eu assim [pausa] e aqui em cima, com licença, [pausa] aqui leva, quer dizer, uma feitio de laja. Até pode ser duas, três, quatro, cinco pedras. Está a perceber? É um ouvido. Chama-se um ouvido. O resfolgadouro, , da carvoeira! Aqui leva outro [pausa] e aqui leva outro, e aqui vê-se fogo. Nós vamos buscar uma mão-cheia de palha uma mão-cheia de [vocalização] ou de rama,

INF2 Ou põe

INF1 qualquer coisa que não se põe dentro. Depois, umas bancas que se levanta com o alferce, do feitio deste [pausa] papel e tapa-se, para não afogar a carvoeira. Se o a- Se ela é afogada, pois ela é afogada, não ardeu.

INQ Pois.

INF1 É que nem não pode arder, pois ela afogou-se com a terra. Mesmo a terra fina vai, [pausa] mata o fogo, está a perceber? E não nada. Morre logo, está a ver? E então, nessa altura, como a gente faz? [pausa] Trabalhou, tapou-a, aqui são os resfolgadouros, quer dizer, que é [pausa]

INF2 Pois é os ouvidos.

INF1 Onde é que está o vento, aquela coisa; a gente marca onde é que está o vento, aquela coisa e, depois, aquilo vai andando. Depois, a lenha vai arder apagada, apagada, apagada, sempre apagada E, depois, quer dizer, isto é um isqueiro, for indo apagada e fez um carvão. Se o patrão que a enfornou ser bom, perceber bem do que está a fazer, pois ficou o madeiro tal e qual a um carvão.

INQ Pois.

INF1 E ali arranja muito carvão. No caso que não seja assim, pois, aquilo fez-se um moitão de cinza. Não tem problema. Não tem problema nenhum.

INF2 Pois é. Se não saber r- enfornar, aquilo arde a que ele arda tudo.

INF1 Deixa estar o resfolgadouro chamam-lhe chama-lhe o resfolgadouro. [pausa] É como nós, quando está a dormir ou como com falta de respiração, é a mesma coisa. Tem que ter uma respiração para [vocalização]

INQ Sim senhor.

INF2 para ser queimado, bem entendido, para respirar. Eu não sei ler, homem, mas porque eu Falta-me o estudo. Eu tenho uma filha e um filho que gostava que eles andassem para a frente, que soubessem mais que a minha raça toda. Isso sempre eu desejo.


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