INQ1 Do senhor Abílio?
INF Do Abílio. Porque andava na caça, no primeiro dia de caça.
INQ1 Sim.
INF E, já se sabe, andavam todos a co-, quatro ou cinco, a caçar e [vocalização] o rapaz [pausa] meteu-se com a espingarda [pausa] num certo sítio – neste, enfim, nestes cedros, tamagueira, naqueles cedros que está acolá…
INQ1 Sim.
INF E o outro rapaz, que acho que viu o coelho, atira ao toiro e [vocalização] e deu nele. Não o viu. Diz que não viu. Ora, primos, filhos de irmãos, é impossível que… A não ser que fosse uma zanga bem funda mas nunca [pausa] nunca a gente quer a morte.
INQ1 Pois, claro, claro, claro. É evidente. Claro. Não. Não, claro.
INF E dá-lhe o tiro… Bem, ele [vocalização], não sei se é o lado o direito se é o esquerdo. O olho que lhe saltou logo. E este diz que está muito cosido. E dizem que [vocalização] este olho [pausa] que comunica com este lado.
INQ1 Pois.
INF Claro Eu cá, já se sabe, eu não sei ler e não coisa.
INQ1 Claro.
INF E então ele está [pausa] do olho que… E o outro olho, ele não vê nada. Do lado que ele [vocalização] tem o olho, está paralítico e do lado que não tem o olho, mexe [pausa] mas… O pai diz que lhe perguntou [pausa] se ele [pausa] o que é que dizia, se [vocalização] gostava mais da noite se do dia. Ele disse: "Pai, de que serve eu dizer, porque eu não sei se é noite se é dia?".
INQ1 Coitado.
INF E era o chefe dedo gado da serra – um rapaz que se que se desenvolvia com [vocalização] carneiros, com [vocalização] vitelos, com [vocalização] cabritos, com cabras.
INQ1 Mas ainda era novo?
INF Ah, um rapaz talvez dos seus trinta [vocalização] e um, trinta e dois!
INQ1 E que, mas quando é que foi? Foi este ano, agora, na caça?
INF Foi no primeiro dia de caça. Eu nem sequer sei em que dia foi. Foi agora no primeiro de [vocalização] de Outubro, talvez, ou no dia dois.
INQ1 Que horror!
INF Sim senhora.
INQ1 Ai, isso deve ser uma tristeza!
INQ2 Ai, que horror. Olhe que o outro, que deu o tiro, também deve estar… Coitado.
INQ1 O outro também deve estar… Claro.
INF Oh, deve de estar mas [vocalização] [pausa] está com saúde e não teve culpa e o outro que tem a su- tinha a sua vida por a frente, [pausa]
INQ1 Pois.
INQ2 Pois é.
INQ1 Claro.
INF que se arranjava tão bem; um homem que tinha tanto gado, tinha aquela serra toda por sua conta mas… [pausa] Foi uma coisa, uma coisa [vocalização]
INQ2 Que desgraça!
INF que a gente… Foi, foi. Que ainda ontem o se- – antes de ont-, domingo – o senhor Abraão do su-, que tem dois supermercados, esteve aqui, falando até com o meu marido – é um senhor que veio ver se comprava esta fazenda, fazenda do [vocalização], Funchal um senhor do Funchal – e ele disse: "Foi o [vocalização] a quebra maior que houve no Porto Santo foi aquele rapaz". Que era um rapaz que transportava carne, para os supermercados; então já sabe que tudo tudo gosta é de carne fresca; tudo gosta é carne fresca e o homem tinha. Sim senhor.
INQ1 Coitado.
INF E é assim [pausa]
INQ1 Realmente.
INQ2 Que pena!
INF a nossa vida.