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SRP14

Serpa, excerto 14

LocationSerpa (Serpa, Beja)
SubjectA ceifa, a debulha e a desfolhada
Informant(s) Aristómaco
SurveyALEPG
Survey year1974
Interviewer(s)André Eliseu Manuela Barros Ferreira
TranscriptionSandra Pereira
RevisionMaria Lobo
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationCatarina Magro
LemmatizationDiana Reis

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INQ1 O homem que anda a fazer a aceifa, diz que é um?

INF Um ceifador. O que anda ceifando chama-se um ceifador.

INQ1 E uma mulher?

INF E uma mulher, o nome é igual.

INQ1 Como é que é? Não se diz?

INF [vocalização] Uma ceifadeira: "Olha, é uma mulher que anda a ceifar". Pois. A diferença, o nome é em fêmea mas substitui, e é o mesmo sentido. Pois.

INQ1 Olhe, e com o que é que se ceifa?

INF Com uma fouce. [pausa]

INQ1 E não, para se Para proteger os dedos, o que é que?

INF Para se protegerem os dedos, é uns canudos. [pausa]

INQ1 De cana?

INF De cana, sim senhor.

INQ1 Olhe, e como é que se chama assim a porção de trigo que um, que um ceifador?

INF A porção A porção de trigo chama-se-lhe [vocalização]

INQ1 Que agarra com a mão?

INF [vocalização] Que a mão É a mancheia.

INQ2 Olhe, e isso é num, num ceifador, não é?

INF Sim senhor.

INQ2 Mas uma, uma ceifadeira?

INF Ceifadeira, pois, que é o ceifador Pois claro, ele é uma ceifadeira porque é em fêmea

INQ2 Mas as mulheres, a mancheia das mulheres é mais pequenina?

INF Mais pequena, sim.

INQ2 Como é que lhe chama?

INF [vocalização] Uma mancheia, porque a gente dá-lhe a mesma coisa. O que é que Tanto que isso se às vezes homem que faz a mancheia pequena, [vocalização] vai logo o outro, o encarregado que anda atrás ou assim: "Caramba, fazes uma mancheia que parece a mancheia duma mulher, homem! Não admira uma mulher fazer uma mancheia pequena porque tem a chave da mão pequena. Agora tu, que tens a chave a chave da mão grande e fazes uma mancheia pequena". Porque [pausa] eles, as habituações do, de, do en- do ensino, era a gente fazer a mancheia grande. Não é: dá-lhe um golpe, põe no chão, dá-lhe outro um golpe, põe no chão. A gente não. O dado do preceito é a gente dar dois golpes, chegam-se os dois golpes, encheu a fouce ouviu? e deu o primeiro mantulho. Pega aqui numa coisinha assim, com este dedo que me ensinaram: "E faz isto" e prendo-o aqui debaixo deste dedo. Chegou à E a ponta [vocalização] O trigo ficou assim um bocadinho assim fora, aqueles bocadinhos que sobraram. Deu outro golpe, deu outro mantulho e depois deu outro golpe, aos três golpes [vocalização] e não deu mantulho nenhum. não se fez mais enrolo nenhum, que a mão não . Levou, deu o último golpe e apanhou assim com a fouce; agarrou a semente assim, com a fouce pôs isto. Chegou ali, voltou assim. Não me põe esta parte que está desatada Não põe, não põe para baixo. Não é o preceito. O preceito é voltar a mão assim ao contrário. A gente com a mão isto é a espiga faz assim, zás, voltou ao contrário, porque a manchinha que está desatada, que não está [pausa] ligada, ficou para cima. Porque outra Atrás vem um outro companheiro ceifando, põe ao contrário e aquela Quer dizer que a que as duas manchinhas, dum e doutro, que estão desatadas ficam entremente as duas que estão atadas. Está a perceber?

INQ1 Pois, pois.

INF Assim é que

INQ2 Também lhe chamam mancheia ou manchinha?

INF É uma Pois, sim senhor.

INQ2 Não é Quando as mulheres andam a ceifar não chamam manchinha àquilo que elas apanham?

INF Pois. Uma manchinha! Pois. E elas é uma manchinha, porque [vocalização] se sabe: uma mão, chave da mão pequena.

INQ2 Pois. Foi o que nós encontrámos também em Peroguarda, uma senhora que nos disse, que era uma ceifadora Uma ceifadora, o que ela apanhava era uma manchinha, não era uma mancheia. Mancheia era dos homens. E o senhor Armínio também nos disse a mesma coisa

INF Pois.

INQ1 Portanto, a das mulheres chama-se uma manchinha?

INF Uma manchinha. Pois.

INQ1 E a dos homens? Uma mancheia?

INF Uma mancheia.

INQ1 Então afinal sempre

INF Pois.

INQ1 Bom! Então e depois como é que se chamam esses montes que se vão fazendo?

INF Esses Esses montes, chama-se o [vocalização] o casar da, da da semente. O casamento da semente.

INQ1 Mas e depois, e como é que se chama esse monte? É uma? É, é um?

INF É um [vocalização] É o casamento da semente, um man-, man- um mantulho de semente.

INQ2 Mantulho?

INF Mantulho da semente.

INQ2 Mantulho.

INF Da semente.

INQ1 E depois esses, esses mantulhos são, são

INF Aos depois são apanhados e são postos feitos então num molho. Que ao depois andam homens atrás apanhando. E com duas pernas, duas partes da da semente, da parte que está corta, são a parte das espigas atadas e com uma parte de cada lado adonde foi corta ouviu? é que se mete ali a semente e depois novamente é é atada. E ou pode ficar deitada, como pode ficar de ouviu? Chama-se então um molho.

INQ1 Pois. E esses molhos depois são todos juntos, não são?

INF E ao depois são todos juntos.

INQ1 Como é que se chama?

INF Depois de todos juntos, é uma moreia. [pausa]

INQ1 Pois. E, e transcreveste isso? Pois. Um é um, um molho. E dois?

INF E dois [vocalização], faz dois molhos. [pausa]

INQ1 E?

INQ2 Olhe, e uma gavela o que é?

INF Uma ga- Uma gavela? É um molho que está feito, [pausa] e fica mal feito, e tem uma mancheia de semente que fica fora, está-se quase safando desta parte do atilho que se põe ao meio, e [vocalização] a gente diz assim: "Não vês essa gavela da semente que está a safar-se do molho"?

INQ2 Ah!

INQ1 Está tudo? Uma paveia. E uma paveia?

INF Uma paveia? Uma paveia é do grão; ou seja o tal chícharo!

INQ1 Pois.

INF Se é apanhado assim à mão, que a mulher apanhe, se não é ceifado ouviu? , é apanhado e depois forma-se assim em redondo. E isso então é que se chama uma paveia. Como seja a fava [pausa] que se ceife, [pausa] também vão ficando em paveia. Mas com a diferença que a fava , depois, passado de ceifadas, quando estão secas, faz-se novamente em molhos também. Depois passa deixa de ser paveias para molhos.

INQ1 Pois. Então a paveia é assim no chão, em redondo?

INF A paveia do grão, o coiso é [vocalização] em redondo. E E as favas, chama-se paveia à mesma, mas com a diferença não não se põe em redondo; ficam com o comprimento porque aquilo depois é para ser novamente atada quando está enxuto. Porque a fava é ceifada sempre verde [pausa] um bocadinho verde.

INQ1 Pois.

INF E então primeiramente ficou no chão assim às manchinhas, e depois são as paveias. E depois é que se junta tudo num molho. E o grão não, porque o grão e o chícharo é apanhado completamente seco. Portanto, vão as as mulheres vão apanhando [pausa] e vai-se logo carregando e vai-se debulhando. E a fava tem que estar ali um mês ou dois à espera que elas acabem de enxugar, porque, se for atado, [pausa] apodrece.

INQ1 Olhe, e, e com o que é que se atam os molhos do trigo?

INF Do trigo? Com a própria semente.

INQ1 Como é que se chama?

INF Chama-se um atilho.

INQ1 Olhe e depois como é que se chama àquilo que fica Depois duma seara ceifada, o que é que fica?

INF Ceifada, chama-se-lhe o restolho.


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