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STJ03

Santa Justa, excerto 3

LocationSanta Justa (Coruche, Santarém)
SubjectO porco e a matança
Informant(s) Dalila
SurveyALEPG
Survey year1991
Interviewer(s)Ernestina Carrilho Maria Lobo
TranscriptionSandra Pereira
RevisionErnestina Carrilho
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMárcia Bolrinha
LemmatizationDiana Reis

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INF Então, olhe, mata-se o porco. A gente é na nossa terra é assim. Cada ca- Cada terra tem o seu feitio, não é?

INQ1 Exactamente.

INF pessoas que matam à véspera, deixam os porcos pendurados

INQ2 Rhum-rhum.

INF Para eles sangrarem, não é? E depois no outro dia é que os vão abrir, é que os vão [pausa] desfachinar e sal- e salgá-los. A gente aqui não. A gente aqui matamos o porco agora de manhã, [pausa] musga-se o porco. Uns é com um maçarico

INQ1 E, e quando não havia maçarico?

INF A gente é Eu eu ainda nunca fiz com maçarico. A gente é com carqueja.

INQ1 Ah, pronto. Isso é que nós Nós queremos sempre o mais antigo!

INQ2 As coisas antigas!

INF Pois. A gente A gente é com carqueja. Musgamos o porco com a carqueja, abre-se o porco

INQ1 Então e antes de, de o abrir, quando, depois de o musgar, não lhe tira aquela pele?

INF Tira-se. Raspa-se. Todo ele raspadinho, tudo raspa-

INQ1 Raspa com quê?

INF Com umas raspadeiras.

INQ1 É mesmo

INF Com umas raspadeirazinhas. Depois lava-se os porcos muito bem lavadinhos, muito bem lavadinhos. [pausa] Depois abrem-se [pausa] ao meio, abrem-se os porcos, tiram-se-lhes as tripas.

INQ2 E não se penduram?

INQ1 Mas Não se penduram?

INF Não.

INQ1 Ai Então é no chão?

INF A gente aqui não. É em cima da banca.

INQ1 Ai, numa banca.

INF Em cima duma banca. [vocalização] Tira-se Depois tira-se as tripas, tira-se o osso do peito, a língua, o fígado [pausa] e o coração. [vocalização] Lava-se tudo bem lavadinho, põe-se dentro dum alguidarinho, vai-se tirar as tripas. Tira-se as tripas, as mulheres vão para o rio a lavá-las. [pausa] E as outras pessoas ficam a abrir o porco todo, desfachinar tudo. Parte-se tudo aos bocaditos, tudo aos bocadinhos, tudo aos bocadinhos. Tira-se o lombo inteiro, tira-se os lombinhos, tira-se as costelas. [pausa] Depois parte-se aos bocados, miga-se a carne com duas facas bem migadinha, bem migadinha, em cima das bancas, bem migadinha dois homens ou esses que souberem, não é? bem migadinha, bem migadinha. Põe-se dentro dos alguidares com alho, e pimentão, e sal, e água. Uma pinguinha de água, não muita. Uma pinguinha de água. Depois mexe mexe-se todos os dias de manhã e à noite, mexe-se essa esses enchidos, essa carne. Todos os dias de manhã E o [vocalização] E o toicinho está na salgadeira salgado. [pausa] Agora têm as arcas, mas isso é recente.

INQ1 Rhum-rhum.

INQ2 Rhum-rhum.

INF Eu ainda sal- Eu ainda é salgadeira.

INQ2 Rhum-rhum.

INF Eu vim daquele tempo antigo. A carne na arca não presta.

INQ1 Fica com outro sabor, não é?

INF Não presta a carne na arca. Eu não gosto. [vocalização] Te- Mexemos a carne todos os dias, todos os dias. Ao fim dos três dias

INQ1 É ao fim de três dias

INF Ao fim de três dias, vamos enchê-la.

INQ1 Rhum-rhum.

INF Com as tripas do porco. [pausa] Estão lavadinhas e metidas em alho e pimentão, e sal, dentro dum balde. Também mexemos todos os dias [vocalização] isso. Depois são lavadas outra vez bem lavadinhas em água limpinha as tripas. Depois são cheias com a carne do porco. E a carne do p- A tripa não chega, compra-se tripa de vaca

INQ1 Rhum.

INF E ata-se, voltam-se do outro, do do outro lado e atamos e enchemos.


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