INF Então, olhe, mata-se o porco. A gente cá é… Cá na nossa terra é assim. Cada ca- Cada terra tem o seu feitio, não é?
INQ1 Exactamente.
INF Há pessoas que matam à véspera, deixam os porcos pendurados…
INQ2 Rhum-rhum.
INF Para eles sangrarem, não é? E depois no outro dia é que os vão abrir, é que os vão [pausa] desfachinar e sal- e salgá-los. A gente aqui não. A gente aqui matamos o porco agora de manhã, [pausa] musga-se o porco. Uns é com um maçarico…
INQ1 E, e quando não havia maçarico?
INF A gente cá é… Eu eu ainda nunca fiz com maçarico. A gente cá é com carqueja.
INQ1 Ah, pronto. Isso é que nós… Nós queremos sempre o mais antigo!
INQ2 As coisas antigas!
INF Pois. A gente cá A gente cá é com carqueja. Musgamos o porco com a carqueja, abre-se o porco…
INQ1 Então e antes de, de o abrir, quando, depois de o musgar, não lhe tira aquela pele?
INF Tira-se. Raspa-se. Todo ele raspadinho, tudo raspa-…
INQ1 Raspa com quê?
INF Com umas raspadeiras.
INQ1 É mesmo…
INF Com umas raspadeirazinhas. Depois lava-se os porcos muito bem lavadinhos, muito bem lavadinhos. [pausa] Depois abrem-se [pausa] ao meio, abrem-se os porcos, tiram-se-lhes as tripas.
INQ2 E não se penduram?
INQ1 Mas… Não se penduram?
INF Não.
INQ1 Ai… Então é no chão?
INF A gente aqui não. É em cima da banca.
INQ1 Ai, numa banca.
INF Em cima duma banca. [vocalização] Tira-se… Depois tira-se as tripas, tira-se o osso do peito, a língua, o fígado [pausa] e o coração. [vocalização] Lava-se tudo bem lavadinho, põe-se dentro dum alguidarinho, vai-se tirar as tripas. Tira-se as tripas, as mulheres vão para o rio a lavá-las. [pausa] E as outras pessoas ficam cá a abrir o porco todo, desfachinar tudo. Parte-se tudo aos bocaditos, tudo aos bocadinhos, tudo aos bocadinhos. Tira-se o lombo inteiro, tira-se os lombinhos, tira-se as costelas. [pausa] Depois parte-se aos bocados, miga-se a carne com duas facas bem migadinha, bem migadinha, em cima das bancas, bem migadinha – dois homens ou esses que souberem, não é? – bem migadinha, bem migadinha. Põe-se dentro dos alguidares com alho, e pimentão, e sal, e água. Uma pinguinha de água, não muita. Uma pinguinha de água. Depois mexe mexe-se todos os dias de manhã e à noite, mexe-se essa esses enchidos, essa carne. Todos os dias de manhã… E o [vocalização] E o toicinho está na salgadeira salgado. [pausa] Agora têm as arcas, mas isso é recente.
INQ1 Rhum-rhum.
INQ2 Rhum-rhum.
INF Eu ainda sal- Eu ainda é salgadeira.
INQ2 Rhum-rhum.
INF Eu vim daquele tempo antigo. A carne na arca não presta.
INQ1 Fica com outro sabor, não é?
INF Não presta a carne na arca. Eu não gosto. [vocalização] Te- Mexemos a carne todos os dias, todos os dias. Ao fim dos três dias…
INQ1 É ao fim de três dias…
INF Ao fim de três dias, vamos enchê-la.
INQ1 Rhum-rhum.
INF Com as tripas do porco. [pausa] Estão lavadinhas e metidas em alho e pimentão, e sal, dentro dum balde. Também mexemos todos os dias [vocalização] isso. Depois são lavadas outra vez bem lavadinhas em água limpinha – as tripas. Depois são cheias com a carne do porco. E a carne do p- A tripa não chega, compra-se tripa de vaca…
INQ1 Rhum.
INF E ata-se, voltam-se do outro, do do outro lado e atamos e enchemos.