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UNS11

Unhais da Serra, excerto 11

LocationUnhais da Serra (Covilhã, Castelo Branco)
SubjectO leite e o queijo
Informant(s) Diomedes Dinora Delmiro
SurveyALEPG
Survey year1997
Interviewer(s)João Saramago Gabriela Vitorino
TranscriptionSandra Pereira
RevisionAna Maria Martins
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMélanie Pereira
LemmatizationDiana Reis

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INF1 Aquela manteiga, pronto! A gente não tem máquina

INF2 E onde se deitar o leite

INQ1 Espere.

INF1 A gente não tem máquinas para isso. Mas antigamente estavam algumas três, quatro desnatadeiras. Isto era o leite das das vacas, que as cabras não.

INQ1 Sim senhora.

INF1 E a gente ia , botava o leite àquela máquina, saía a [pausa] a nata por um lado, e o leite saía por o outro.

INF3 À volta.

INF1 E depois havia: a gente juntava aquela nata numa panela toda a semana; ao fim-de-semana, havia então outra máquina para se fazer a manteiga. A gente deitava para aquelas natas e estava um bocado assim a bater, [pausa] e saía então a

INF3 Era no tempo da escravidão!

INF1 Faziam então a manteiga. E aquelas senhoras iam vender a manteiga à Covilhã e depois [vocalização], pronto, conforme a, a os quilos que a gente tinha é que elas pagavam.

INQ1 Ah! Portanto, a manteiga era feita também no sítio? Não era a senhora que fazia em casa?

INF1 Não, não. Não, não.

INQ1 Mas o queijo sim?

INF1 O queijo sim. O queijo faz a gente em casa.

INQ1 Rhum-rhum.

INF1 Mas a manteiga não. Porque a gente era preciso ter aquelas máquinas para fazer a manteiga, [pausa] e a gente não as tinha.

INQ1 Rhum-rhum.

INF1 Mas havia aquelas pessoas. Estavam pelo menos umas quatro, umas quatro. Claro, se iam desnatar Por exemplo, eu ia desnatar a uma que chamavam a Docelina Hermógenes. Outras iam desnatar ao Deodato Hermógenes. Outras iam desnatar à Domingas. Era assim, cada um tinha

INQ1 Havia

INF3 Havia o pessoal

INF1 Cada um tinha tinha as suas freguesas.

INQ1 Sim senhor.

INQ2 E quem é que vendia a manteiga? Era a senhora depois? Ou era a outra?

INF1 Não, não. Era Era as donas das máquinas.

INQ2 Ah!

INF1 [vocalização] A gente fazia a manteiga, elas pesavam e depois iam-na vender à Covilhã.

INF3 Levavam o que queriam.

INF1 Elas iam todos os, todos os

INF2 Ficava na Ficava na consciência delas, o peso não era?

INF1 Pois, pois.

INF2 se era um certo, ou não.

INQ2 Pois, pois.

INF1 Não. Elas pesar, pesavam-na logo na frente da gente. Por exemplo, se estava a trinta, pronto, elas tinham o ganho delas [vocalização] A nós 'pagavam-nos-a' a trinta, na Covilhã, a gente não sabia como lha pagavam a elas, não é?

INQ1 Quanto era.

INQ2 Claro.

INF1 Pronto, elas tiravam o [vocalização] ganho delas e a nós, conforme os quilos que levavam [pausa] é que nos pagavam.

INQ1 Rhum-rhum.

INQ2 Pois.

INF1 Era assim. Elas iam todos os fins-de-semana. A gente fazia a n-, a [vocalização] a manteiga era à sexta-feira. Andávamos toda a semana a ir desnatar o leite para uma panela. E quando era então à sexta-feira, a gente fazia a manteiga, elas pesavam-na, ao sábado iam-na vender e à noite faziam-nos a féria à gente.

INQ1 Rhum-rhum.

INF1 Era. Era como é que era assim um empregozito.

INQ2 Pois.


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