VPC03

Vila Pouca do Campo, excerto 3

LocalidadeVila Pouca do Campo (Coimbra, Coimbra)
AssuntoOs cereais
Informante(s) Dulce

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INF Depois então, quer dizer, [vocalização] sachava-se, andava-se com pessoal a sachar, pessoal levava-se pessoal A minha mãe que Deus tem falava a pessoal a ganhar o dia.

INQ Rhum-rhum.

INF No outro tempo era, era m- era tudo muito pobrezinho. Sabem o que levavam para os almoços? Ao meio da manhã.

INQ Sim.

INF Era cabeça de alho e cebola.

INQ Cabeça de alho e cebola?

INF Para comerem ao pequeno-almoço!

INQ Comiam com pão?

INF Ou com pão ou com um bocadinho de broa [vocalização]. Quem era pobrezinho, que não tinha A minha mãe tinha os seus bocadinhos, tinha a sua broazinha, cozia muitas vezes a broa. Levava [vocalização] broas inteiras, panelinhas de azeitona para elas comerem.

INQ Pois.

INF Pois. E muita vez, ela dizia assim: "Olha, deixa-me ter o dinheiro trocado para" Porque ao meio-dia vinha-se a casa comer, porque elas tinham os filhos e vinham [vocalização] a casa dar comer aos filhos, e a minha mãe dizia assim: "Ah, deixo assim Deixa-me trocar o dinheiro para elas levarem para irem comprar a broa e alguma coisinha para dar aos filhos".

INQ Pois.

INF Pois.

INQ Pois.

INF E quando se andava E no arroz também era a mesma coisa.

INQ Rhum-rhum.

INF E merendava-se também. [vocalização] Um lanchezinho ao meio da coisa e vinha-se à noite , às trindades.

INQ Pois.

INF A gente chamava as trindades. Era.

INQ É que vinham para casa?

INF Quando batia [vocalização] o sino Ele agora nem . Aqui na nossa terra em Taveiro ainda .

INQ Rhum-rhum.

INF E batia-se as trindades é que se despegava para se vir para casa.

INQ Para se vir para casa.

INF Mas era um tempo lindo! Olhe, juntava-se o os ranchos, ia tudo para o campo. [vocalização] Ali andava um rancho a cantar, ali andava outro, ali andava outro

INQ Agora não cantam, pois não?

INF não andam assim pelo [pausa] pelo campo.

INQ não.

INF Embora cantem, não andam Andávamos a mondar eu não sei se conhecem? , [vocalização] a mondar.

INQ A mondar era para fazer o quê? Mondar é fazer o quê?

INF Era com umas meias a As meias assim, cortadas por aqui, até aqui assim, e a gente fazia assim uns calções [pausa] A senhora doutora não sabe, não?

INQ Não, não.

INF Oh, fazíamos assim uns cal- uns calções.

INQ Faziam assim.

INF As meias eram com os pés cortados e e depois metíamos Vestíamos Despíamos a nossa roupa e vestíamos uma roupa velha para andar na monda. E depois com umas meias atávamos aqui com uns cordéis,

INQ Sim.

INF aqui com uns alfinetes assim, e botávamos uns aventais, e e andávamos assim.

INQ Iam fazer o quê?

INF Porque as bichas as samessugas, chamava a gente , mordiam.

INQ Ai, está bem.

INF Não sabem, não?

INQ Porque isso era quando era para o arroz, não era?

INF Era quando era no arroz.

INQ No arroz.

INF Agora não é.

INQ Pois.

INF Mordiam, e a gente

INQ Tinham que andar com os pés dentro de água, não é?

INF Andá- Ai, então, até por aqui!

INQ Pois, as pernas inteiras.

INF E tudo. E Iam, faziam sangue à gente.

INQ Ah! Pois, pois.

INF Faziam sangue à gente e aos animais que andavam na água. E a gente tinha que ter assim essas meias cortadas com os pés até aqui acima a agarrar tudo, uma coisa à outra, por causa de elas não morderem a morderem na gente. Que a gente ia muitas vezes!

INQ E essa altura de mondar era que altura?

INF [vocalização] Sã- São João

INQ Também por essa altura.

INF [vocalização] Mais assim por mais adiante.

INQ Rhum-rhum.

INF Era. Era sa Era São João, sa- Santiago era tarde, mas até se mondava em Santiago.

INQ Ainda Santiago.

INF Arrancava-se então a Mas o arroz tinha muito! Olhe, semeávamos o viveiro era um viveiro assim basto ,

INQ Pequenino?

INF pequenino.

INQ Sim.

INF Depois arrancava-se à [vocalização] às manzadinhas, atava-se com bunho, assim com bunho, depois era acartado com uma zorra, não sabem?

INQ Sei, sei, sei. Também era uma pergunta que eu lhe ia fazer. A zorra.

INF Acartava-se com a zorra e com as vacas. E aquilo tudo cheio de lama!

INQ A zorra eram assim dois paus

INF Ela Era, a zorra era um, um, uma uma tábua assim larga e e era então tudo com o cadeado [vocalização] e c- e com tudo na mesma, como se trabalhava quando tinha

INQ E era arrastado pelo chão?

INF E era arrastado pelo chão.

INQ Pois.

INF Para levar a zorra com o arroz onde a gente queria.

INQ Pois.

INF Depois era, era era plantado, andava-se com o rancho das mulheres a plantar o arroz.

INQ Rhum-rhum.

INF Depois então Porque dantes não era as químicas, nem era assim semeado.

INQ Pois, não. Pois.

INF Depois então mondava-se, tirava-se aquela milhã que a gente lhe chama a milhã do coiso. No outro tempo que depois

INQ Milhã era uma erva?

INF A milhã era era erva que estava dentro do arroz. Que é então a tal milhã ainda a tenho porque ela ele ainda , era então a tal milhã que a gente tirava. Depois então a milhã, noutro tempo agora não se faz nada disso , espigava, e a gente andava com um rancho de mulheres ou ia a gente cortar essas cabeças para não misturar no arroz.

INQ Ah! Sim, sim, sim.

INF Pois, cortava-se, tirava-se as cabeças ou tirávamos para baixo e esse esse pasto era para o gado comer.

INQ Pois.

INF E esse pasto era era para o gado comer.

INQ Sim senhora.

INF Pois é. Essa vida era toda assim.


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