INF Normalmente, cozia-se inhames uma vez por semana, ao passo que hoje se coze quando falta, porque é nas panelas de pressão, porque é [pausa] pouca porção de inhames que se coze.
INQ Rhum-rhum.
INF Mas quando se cozia, [pausa] não havia casa que cozesse inhames que não tivesse a morcela para comer com o inhame quente, no dia que se cozia os inhames. [pausa] Também se fazia um outro conduto: aproveitava-se tudo… Mesmo eles diziam: "Só não se usa do porco o cocó, de resto tudo é aproveitado"! [vocalização] Derretia-se os torresmos do toicinho e tinha um pé, faziam o pé do torresmo. [vocalização]
INQ Que era feito de quê?
INF Que era o pé do torresmo? Era aquilo [vocalização] miudito que se desfazia. Era, às vezes, bocadinhos de banha. A banha e praticamente aquele riçol e aquilo, isso era deitado fora, mas umas gordurazinhas que não eram daquelas gorduras tão maciças eram aproveitadas, que se fazia o pé do torresmo.
INQ Era o que sobrava do, da, da, de se fritar o torresmo de toucinho? É isso?
INF De toucinho, sim. Por exemplo, a gente agora escorre a banha, [pausa] e o que fica no esc-, no, no es- no ralador vai para fora porque já não se usa. Que aquilo então acredito que fosse muito doentio, porque normalmente o pé do torresmo apanha muito sal.
INQ Rhum-rhum.
INF E aquilo era muito salgado. O que é que se fazia para tirar o sal ao torresmo? [pausa] Cozia-se a cabeça do porco, desmanchava-se a cabeça do porco… As ore-, a [vocalização] A parte do toucinho punha-se para derreter, a orelha para cozer, salgada; o interior da cabeça era cozida num caldeirão, sem sal. Depois desfazi- desmanchava-se a cabeça, desfazia-se aquele conduto todo, fazia-se vinha-de-alhos, fritava-se e misturava-se com o pé do torresmo para ir tirar o o sal que o pé do torresmo tinha. Isso era um conduto maravilhoso que hoje pouca gente gosta, mas que naquele tempo era maravilhoso para se comer com o inhame.
INQ E continua-se a chamar pé de torresmo, mesmo misturado com a cabeça?
INF E continuava-se a mistura- a chamar pé de torresmo, com cabeça.
INQ Rhum-rhum.
INF Porque havia [vocalização] havia pessoas que faziam assim e havia as pessoas que só faziam o pé do torresmo.
INQ Só…
INF Mas eu nunca me lembro de comer só o pé do torresmo por o motivo de ser muito salgado.
INQ Era gorduroso e salgado.
INF Era gorduroso e salgado. E já se evitava o diminuía o sal porque o outro não tinha sal e ia absorver o sal do pé do torresmo.
INQ Rhum-rhum. Mas, e a… Que nome, que nome é que dava àquela tripa que ficava entre a delgada e a grossa? Há uma que é assim mais grossita, que se enche também, normalmente se enche com a mesma massa da morcela, ou aqui não se faz isso? O palaio ou o paio?
INF Ah, é o paio! É o paio do por-. É o paio. Isso é Isso é [vocalização] um [vocalização] um saco que fica… Isso é o fim da da tripa. Isso é o fim da tripa do, do intesti- do intestino grosso.
INQ Mas não é aquilo que se chama a tripa do rabo ou a tripa do cu, pois não? Não é essa?
INF Não. Não é essa. É a do paio!
INQ Sim.
INF É a do paio. E alguns chamavam paiol. Porque, às vezes, havia paioles muito grandes. Esse paio, ele havia pessoas que o fritavam já na tripa. Eu, por mim, sempre já o desmanchava… Cozia a tri- Cozia a morcela dentro do paio, mas desmanchava e e fritava era sem sem…
INQ Era frita. Só fritava o recheio.
INF Só fritava o recheio todo à volta. Isso chamava-se o paio e alguém chamava paiol.
INQ Paiol.