INQ Olhe, e como é que se pendura o porco?
INF O porco é pendurado é [vocalização] é por cima, pela cabeça. E um tio do meu marido, morava na [vocalização] no Pinheiro. Eu então nunca tinha visto! Mas já vi lá não sei onde foi, noutro lugar. O porco era pendurado era pelas pernas com a cabeça virada para baixo. E é assim. E a gente enfeitava com ramos. Ah, mas era quando eu era solteira. Ah, eu já estou velha, já não tenho pachorra. Risos
INQ E não costumava enfeitar também a casa? Pôr os mosquiteiros?
INF Ai, em tempo, a gente punha atrás dos nossos quadros era [vocalização] palmitos. [pausa] Agora já a gente se deixou-se disso. Já há rosas do Japão, a gente bota assim nos ouvidos, [vocalização] e o véu assim nas mãos do porco. E ele [vocalização] E é assim. E eu metia-lhe uns junquilhinhos e umas coisas por lá abaixo, no véu. É bonito! E há pessoas que tiram retratos para mandar para a América. [pausa] E é assim.
INQ E já não faz nada disso? Esses enfeitos, não faz nada?
INF É só isto. Eu já não tenho pachorra. Já estou velha. A gente aí nos meus anos já não tem pachorra! Risos A senhora esteve aí… A senhora
INQ Mas quem é que costumava fazer esses enfeites?
INF Era ele [vocalização] Era a gente.
INQ Não eram… Eram as raparigas da terra?
INF Era a gente. E [vocalização] eu morava… Eu não morava aqui. Eu moro aqui há nove anos. Morava era nas Fontes. E depois eu era rapariga solteira e tinha minha cunhada e aleijadinha – não era muito parladeira. E eu [vocalização] tinha minha madrinha, que era uma irmã de meu pai. Tinha [vocalização] Tinha assim pessoas amigas que vinham nos dias de matança. Mas já [pausa] isso vai-se acabando e já as minhas famílias morreram, já não tenho ninguém. Só tenho o meu homem e o meu filho e a minha nora e os meus netos. E é o meu irmão que lá há a morar na Terceira e que tem estado já há dezoito anos na América. Veio agora para a Terceira há um ano. Veio até aqui para minha casa. E [vocalização] E é um afilhado que é filho do meu irmão. Não tenho mais ninguém.