INF Há um homenzito aqui na serra já aí de uns oitenta e qualquer coisa de anos que [vocalização] fez uma cantiga. E de vez em quando procurava por mim e de vez em quando procura. Ainda não há muitos dias que ele me mandou recomendações. E então, às vezes, ele ia passa- para ali à do Godim – sabes onde é? –, e o homenzito aparecia e ele: "Ande, avie lá uma cantiga! Ande, avie lá uma cantiga"! E eu lá dizia uma cantiga e ele dizia outra. E dizia-me ele assim: "Há-des fazer uma cantiga neste mote que eu te vou dizer"! Digo: "Então, se eu for capaz"! Diz ele assim: "Olha, eu tenho uma cantiga [pausa] neste mote: Vou-me fazer uma viagem, não torno cá a voltar. Sozinho não posso ir, quatro é que me vão levar". Digo-lhe eu assim: "Olhe, e talvez eu seja capaz"! "Há-des fazer uma cantiga nisto". O homem disse a cantiga, pois, disse a cantiga toda, e diz ele assim: "Eu gostava que tu, um dia, quando viesses aqui à do Godim, trazeres já essa cantiga para mim ouvir, no mesmo mote que eu tenho, a ver se é parecida com a minha". Mas era impossível, pois não não podia ser. Eu sabia lá o que é que o homem tinha dito. E então [pausa] eu disse então ao homem: "Vou-me fazer uma viagem, não torno cá a voltar. Sozinho não posso ir, quatro é que me vão levar".