INQ Nunca costuma pendurar coisas na chaminé, dentro da própria chaminé, não?
INF Ponho a minha Ponho as minhas linguiças, quando mato o meu porquinho, ponho as morcelas e a.
INQ Mas é ali?
INF Ali mesmo. É tudo ali do fumeiro. E há quem deixe… Também eu deixo – já cheguei a deixar – orelha de porco e pé e [pausa]
INQ Ai também?
INF assim umas peles. Depois a gente acabante de dias, tira-se, que aquilo fica enxutinho e vermelhinho e a gente faz uma molha, [pausa] para se ir comendo. [pausa] Fica aquela geleia muito bem feita depois. A gente vai e bota-se dentro duma tigela ou dum ou dum pírex, e a gente depois vai tirando um bocadinho, vai-se aquecendo e vai-se usando.
INQ Como é que se faz essa geleia?
INF É mesmo no lume. A gente, naquele tempo, fazia era num caldeirão, mas agora já é em tachos.
INQ Mas põe lá a orelha e a…
INF Pom- Pomos a orelha, pomos o pé, [pausa] pomos disso que queremos deitar dentro, [pausa] do porco. E depois deita-se uma uma cebolinha, um alhinho, uma folhinha de louro, uma jamaica, um pauzinho de canela, com a sua gotinha de água; e lá aquilo ferve e a gente depois vai provando; assim que está no seu tempero e está cozidinho, a gente tira para o lado; deita-se dentro ou da tigela, como eu estou dizendo à senhora, ou do pírex; e depois vamos tirando assim um bocadinho e é que se vai deitando ou numa sertã ou na ou num tachinho, para se ir aquecendo e se ir comendo.
INQ Mas aquece-se? Ou come-se frio?
INF É, aque-. Não senhora. A gente aquece. Para se comer depois com côcos, um bocado de massa grossa.
INQ Olhe e usava assim?…
INF Não, eu não posso dizer inhames. Que eu para dizer i-…
INQ Não?
INF Não. Porque ele a fresca a fresca da Carmina foi mais o pai para o mato e disse assim: "Eu fui hoje ao mato mais o meu pai buscar uma carrada de inhames". Dali a bocado, continuou a falar com as pessoas e foi depressa: "Ainda agora estou acabando de rapar um caldeirão de côcos e pôr no lume". Para quê então dizer inhames duma vez e côcos doutra?! Pois se estou habituada a dizer côcos mais, o meu forte passa por côcos.
INQ Claro. Olhe, usava assim umas coisas assim deste género?
INF É, sim senhora.
INQ Era o?…
INF O caldeirão é mesmo assim.
INQ Ai o caldeirão é isto?
INF É o caldeirão.
INQ Sim senhora.
INF Ainda tenho dois.
INQ De ferro?
INF Tenho um onde derreto o meu porco e tenho outro, cozo cozo couves e cascas para as galinhas. Ainda tenho dois caldeirães! Já não é qualquer um que tem um caldeirão.
INQ Mas porque é que as pessoas já não usam?
INF É porque não gostam, porque o fazer da comida agora dentro do caldeirão, já vai um cheiro a fumo, sendo na grelha; e o caldeirão não se pode pôr no fogão, porque é muito grosso, gasta muito gás; e mesmo, tem os pezinhos, não assenta bem no no fogão. Tem que ser é na grelha, o caldeirão. Na hora da comida não é tanto saborosa!